30 de outubro de 2008
29 de outubro de 2008
27 de outubro de 2008
Laxness e a realidade contemporânea islandesa
22 de outubro de 2008
Au bord de l'eau
Si tu as le soin de prendre ton poids
Toute l’infinitude de ton poids réel
Et not pas celui masqué par ton amertume de gamin
Ou de petit oiseau sans ailes.
Si tu le fais, tu le verras
par toi-même
peut-être ce chemin fleuri
donc tu le cherches
et par lequel tu désespères.
Ecoute-moi, je me confesse devant toi
Je n’en sais rien, je n´en sais vraiment rien
Et je ne te connais plus
si cas il l’est que je t’ai aucune fois connu.
Regarde-toi ce qu’importe vraiment
Le soleil qui brille
Et la mer bleue qu'est toujours là chaque matin
Tout aussi comme les paumiers
ancrés au sable
indifférents à ce qui se passe
au delá des bords de l’eau.
20 de outubro de 2008
O Caçador de Tesouros
"Sempre me lembro de ter ouvido o mar. De mistura com o vento nas folhas das palmeiras bravas, um vento que nunca deixa de soprar, mesmo quando nos afastamos da costa e avançamos canaviais adentro: é o ruído de fundo que acompanhou a minha infância. Ouço-o agora, no mais íntimo de mim, e levo-o comigo para onde quer que vá. O marulho lento, incansável, das ondas que se quebram ao longe na barra de coral e depois vêm morrer na areia do Rio Negro. Não passa um dia sem que vá ao mar, nem uma noite sem acordar com as costas alagadas em suor, soerguido na minha cama de campanha, afastando o mosquiteiro e procurando avaliar a altura da maré, inquieto, tomado dum desejo que não compreendo.
Na escuridão, penso no mar como se fosse uma pessoa humana, com todos os sentidos despertos para melhor o ouvir chegar, para melhor o receber. As vagas gigantescas cavalgam os recifes, vêm desabar na laguna e o estouro faz vibrar a terra e o ar como um caldeirão. Ouço-o, o mar mexe-se, respira. [...]
O mar está dentro da minha cabeça, e é ao fechar os olhos que melhor o vejo e ouço, que consigo distinguir cada ribombo das vagas separadas pelos recifes e logo de novo unidas para virem quebrar-se na costa. [...]
Nada existe mais, nada a não ser o que sinto, o que vejo, o céu tão azul, o estrondo do mar a lutar com os recifes e a água fria que me escorre na pele. [...]
Abro os olhos e vejo o mar. Não o mar cor de esmeralda que via outrora nas lagunas, nem a água escura diante do estuário do Tamarindo. É o mar como ainda não tinha visto, livre, selvagem, dum azul inebriante, o mar que levanta o casco do navio, lentamente, vaga após vaga, ente sulcos de espuma percorridos por centelhas. [...]
Agora sei onde estou. Encontrei o lugar que procurava. Após estes meses de vagabundagem, sinto uma nova paz e um novo ardor."
Fica-se preso, como numa teia, à procura do tesouro, que se vai descobrindo página a página, em cada descrição ou episódio da narrativa. Le Clezio escreve. Sempre com o mar em fundo, omnipresente, como um personagem secundário que afinal é principal. O mar que sai de dentro do narrador (estamos avisados desde o primeiro parágrafo, de resto), porque se percebe o grau de intimidade deste com a água salgada. Não é apenas poesia, ou figura de estilo vulgar, não se trata apenas de um passeio à beira-mar, na praia, no molhe batido pela vaga de Inverno, de dizer que se gosta do mar mesmo quando efectivamente se gosta (e quem não gosta?); nada disso, aqui trata-se de água salgada misturada com sangue, a correr nas veias, linhas, parágrafos. E então tudo muda de figura, muda obviamente de figura. É um livro do mar. Por isso, no fim, guarde-se num sítio especial da estante. O mar preparou-nos este segredo, este tesouro. É disso que se trata.
18 de outubro de 2008
Et de quatre!
O programa é o seguinte:
17 de outubro de 2008
16 de outubro de 2008
Os sonhos não perduram,
por vezes desabam como catedrais
de enredos bizarros
projectados em vitrais
superficialmente coloridos
mas vazios de ideiais.
15 de outubro de 2008
12 de outubro de 2008
Marrocos em Silves
9 de outubro de 2008
Guernica 3D
Últimos dias para Olhar Picasso no Pavilhão do Arade, em Portimão até dia 19/10, diariamente até às 18 horas.
8 de outubro de 2008
meandros, esteios e ravinas calcinados
que recuso percorrer...
De Manhã Em Berlim
vi o coração desdentado,
a louca sepultura,
a cinza,
as ruínas mais pesadas,
com florões e frisos
gravemente feridos,
balcões arrancados a uma negra mandíbula,
muros que já perderam, que não encontram
as suas jaelas, as suas portas,
os seus homens, as suas mulheres,
e uma montanha dentro de escombros empilhados,
sofrimento e soberba confundidos
na farinha final, no moinho
da morte.
Oh cidadela, oh sangue
inutilmente desparecido,
esta é talvez, esta é
a tua primeira vitória,
ainda entre escombros negros
a paz que conheceste,
limpando as cinzas e elevando
a tua cidadela para todos os homens,
tirando as tuas ruínas
não os mortos
mas o homem comum,
o novo homem,
o que edificará as estruturas,
do amor, da paz e da vida.
Pablo Neruda, excerto de O Sangue Dividido
7 de outubro de 2008
6 de outubro de 2008
Maria João ist ein Berliner
W.A. Mozart Kv.466 concerto n. 20 em Ré menor, II e III mov.
M. João Pires, Berliner Philharmoniker e Pierre Boulez
Mozart compôs este trabalho em 1785 e a primeira execução pública do mesmo foi em Viena nesse mesmo ano, tendo a orquestra sido dirigida pelo próprio compositor. Leopold Mozart, o pai, escreveu à filha, Maria Anna, o seguinte, após ouvir a peça: "Ouvi um excelente concerto de Wolfgang, no qual o copista ainda trabalhava quando chegámos e o teu irmão nem sequer teve tempo de ensaiar o rondó porque teve de supervisionar a cópia das partituras."
O concerto divide-se em três movimentos, sendo o primeiro Allegro, a que se sucedem Romance e Allegro Assai, habituais em Mozart e nas composições à época. O tema principal é abordado no primeiro movimento, sendo repetido no segundo e também no terceiro, variando embora o tom, que no segundo movimento passa a Si maior e a Sol menor, antes de evocar novamente o tema principal com que termina a peça. No terceiro movimento assume-se definitivamente o rondó a que se refere o pai Mozart, no tom dominante do concerto, que termina com um vibrante solo de piano, repetido pela orquestra num poderoso e surpreendente Ré maior.
A versão reproduzida acima, interpretada por Maria João Pires tem como pano de fundo os Jerónimos e corresponde a uma versão do concerto com arranjo do maestro, escritor e ensaísta(1) Pierre Boulez, sendo a orquestra conduzida pelo próprio (note-se a ausência de batuta, que é uma [sua] imagem de marca).
(1) v. "Schoenberg est mort"
4 de outubro de 2008
Mónica Pais
3 de outubro de 2008
The sounds of colours
(Fundação Joe Berardo)
and the colours of sounds
Disco 1. Play. Som. Imperfeições. António Pinho Vargas. Rewind. Memórias. Brinquedos, Tom Waits, Dança dos Pássaros, Alentejo, La Corazón (lento e acelerado), "não sou nenhum compositor, sou apenas um músico" dizia Pinho Vargas há não muito tempo numa entrevista breve remontando a 2002. Pausa. Antes Stop. E eject. Insert. Agora o Disco 2. Close. Play. Imperfeições parte dois. E? "bem, afinal, talvez, quem sabe?..." diz o músico já na recente condição de auto-assumido compositor, em 2008. Finalmente. E de facto. Percebe-se agora o alcance da afirmação feita em 2002. António Pinho Vargas tinha ideias claras sobre onde queria chegar e amadureceu-as. Esperou. Soube esperar. Soube fazer-nos esperar. Bem, diga-se, como convém, e fez questão de comprová-lo neste novo trabalho, onde as primeiras composições ombreiam com as mais recentes tornando evidente o percurso e a evolução do "simples" músico para o maduro compositor. E se não havia, dizemos nós, necessidade, é evidente que estavamos redondamente enganados. A erudição na música de Pinho Vargas intensificou-se (a complexidade do Movimento Parado das Árvores é um exemplo), elevou-se e atingiu um patamar apenas ao alcance de alguns - poucos - eleitos. Nada Obscuro nem Nebuloso, reforce-se, em Pósludio, nesta simples e primária apreciação. E agora? Será o céu o limite? Qu' importe? Por ora, música, Maestro! com todas as Imperfeições que desejar. E perdoe-se-nos o minimalismo da apreciação.