24 de novembro de 2010

Um poema em 128 segundos

A noite derrama-se nas minhas palavras
A madrugada avança
Notas de música fria
húmidas
desenroladas numa pauta
ouvem-se ao longe
uma mulher chora.
A minha mão saltita no papel
acendendo aqui e ali uma vela
de esperança e pureza
Os meus pensamentos enrolam-se
batem num muro de palavras
O meu poema tinge-se de negro
talvez o meu melhor poema
Digo negro?
pelo que contém e não pela forma
como se edifica
Desbasto-o. Nenhum muro é suficientemente sólido
perfeito, eterno
e este muro que aqui deixo esta noite
fria, húmida
fragilizado
no corpo recém edificado onde se alojam já frestas por onde cresce a hera
amanhã a cal que o reveste secará ao sol
como a minha pele plena de sal
gretada pelas lágrimas que já soube derramar
Pela manhã haverá sol
e o meu muro
sólido, abrigará na sombra os lírios de que tanto gosto
enquanto no lado solarengo
se aparam os espinhos às rosas.
A minha carne soçobrará por fim ao cansaço da noite
e o meu sangue talvez abrande vergando-me ao sono
da manhã
Sorrio antes de enlouquecer
as palavras doem
o Sol já alto acode-me
na falta de limpidez do meu pensamento
Raio de luz
uma chama acende-se nos telhados
enquanto se desmorona por fim o muro
e se libertam em catadupa as palavras
que o meu coração aprisionava há pouco.


Hesperion XX Jordi Savall - Polorum regina omnium nostra .mp3
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1 de novembro de 2010

Um profundo adeus

Esta noite sei-te triste
(a)batida
como a areia lavada na maré vasa
gotas salgadas escorregando para o mar
em sulcos profundos como rugas
eferidas abertas
até à próxima maré.
Apetece-me sentar por ora,
em silêncio
na orla
naquela fronteira em que a areia
hesita entre ser seca ou molhada
onde nada é certo
a não ser a nossa amizade
e a certeza que partilho com as estrelas
a tua imensa dor.