6 de dezembro de 2011

O euro falhou, viva o Eurico | iOnline



O i, pela pena da Ana Sá Lopes, acaba de me tornar numa espécie de celebridade efémera. Quase sem querer, pela manhã, chega-me isto:

Portugal precisa do Eurico. Lisboa, Porto, Paços de Ferreira e Campo Maior precisam muito do Eurico. O Algarve, a Serra da Estrela e os Açores precisam do Eurico. Quem é o Eurico? O nome foi inventado aqui pelo meu colega de redacção António Rodrigues: o Eurico é uma espécie de parente próximo do euro, mais jovem, mais magro e também muito mais preparado para os tempos que correm.

O Eurico é uma moeda mais fraca do que o euro, o que é uma coisa boa para incentivar as exportações, a única maneira conhecida nas escolas de economia para, nos próximos tempos, aguentar a economia portuguesa, ameaçada pelo desastre e com consumo interno pouco acima do zero. O desastre, na essência, é o mesmo que ameaça o conjunto das economias europeias, com ou sem implosão do euro: a depressão profunda.

Agora que o euro falhou, viva o Eurico. As razões para o falhanço do euro são conhecidas: basicamente, decidiu-se reunir economias muito fortes e outras muito fracas sem que a união económica fosse sustentada por qualquer coisa que tivesse alguma parecença com uma união política. Estando já adquirido que, por força da sua própria história, (infelizmente) a Europa nunca funcionará como os Estados Unidos da América, a ideia do euro a duas velocidades – que tanto terror inspira em alguns dirigentes da União – pode ser uma luzinha ao fundo do túnel, uma saída aceitável para uma crise sem fim à vista.

O Eurico dava uma margem aos países frágeis para recuperarem as suas economias, com base em exportações muito mais baratas – a verdade é que, sem o Eurico, iremos continuar a fazer o chamado “ajustamento” à conta de salários cada vez mais baixos e da indignidade da espiral do desemprego sem esperança.

A Europa devia concentrar- -se no Eurico. Portugal precisa de um Eurico. A Espanha, a Itália, já para não falar da Grécia e da Irlanda, também precisam do Eurico. E não sabemos se um dia destes a França, acossada pelos mercados e pela ameaça de descida de rating da sua outrora reluzente economia, também não virá a pedir a adesão ao nosso Eurico.

A solução ontem apresentada pelo duo Merkel/Sarkozy repesca o falhado pacto de estabilidade da fundação do euro. As sanções já existiam e eram duríssimas: acontece que foram a França e a Alemanha (a Alemanha de Schroeder, mas também a Alemanha dirigida por Merkel) os primeiros países a violar o dito Pacto de Estabilidade. Não houve sanções para esse duo dinâmico. Abaixo a moeda esquizofrénica que, na iminência do seu colapso, vale mais do que o dólar. Viva o Eurico.

Obrigado ao i e à Ana. Boas Festas, muitos Euricos na vida!