8 de outubro de 2008

De Manhã Em Berlim

Acordei. Era Berlim. Pela janela
vi o coração desdentado,
a louca sepultura,
a cinza,
as ruínas mais pesadas,
com florões e frisos
gravemente feridos,
balcões arrancados a uma negra mandíbula,
muros que já perderam, que não encontram
as suas jaelas, as suas portas,
os seus homens, as suas mulheres,
e uma montanha dentro de escombros empilhados,
sofrimento e soberba confundidos
na farinha final, no moinho
da morte.

Oh cidadela, oh sangue
inutilmente desparecido,
esta é talvez, esta é
a tua primeira vitória,
ainda entre escombros negros
a paz que conheceste,
limpando as cinzas e elevando
a tua cidadela para todos os homens,
tirando as tuas ruínas
não os mortos
mas o homem comum,
o novo homem,
o que edificará as estruturas,
do amor, da paz e da vida.

Pablo Neruda, excerto de O Sangue Dividido

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