17 de junho de 2008

Sudoeste

Cada olhar que te li
ensinou-me muito
sobre os recônditos segredos do teu corpo
e as contradições da tua alma.
O amor não é contudo o prazer
nem a perfeição de sentimentos
e a cegueira de uma separação
apenas existe depois do fim
e das sensações espúrias e imaturas
da solidão ou do tédio.

Esta manhã sopra um sudoeste fresco
que se esgueira por entre as frestas das janelas
do madeirame envelhecido
com assobios de liberdade

é por isso inútil o teu refúgio debaixo dos lençóis:
o que procuras,
la liberté,

comme tu bien le sais,
c' est moi.



Esbjorn Svensson - 1964-2008
compositor de jazz, mergulhador
Dodge Trio, The Dodo

3 comentários:

CCF disse...

Como pode o mar engolir alguém assim?!
~CC~

E. disse...

como pode o mar não engolir alguém assim?

Anónimo disse...

A última vez que soube de alguém que desapareceu debaixo do mar, era bem nais próximo e ainda recordo a fúria de impotência pelo mar maior do que eu.

Aceito hoje essa ambição das ondas pelos corpos e desejo que elas me esqueçam.

Quanto ao teu poema, quanta liberdade julgas que procura o outro nessa fuga? A maior, a da solidão. A da imensidão da ausência, à negação da procura, a não sofrer. O problema é que esse bálsamo é temporário. Voltará porque apenas se é livre nessa entrega, a ti, a outrém... T