24 de junho de 2008

Un fin violin

Em 1694 Antoni, mestre luthier, exercia o seu mester em Veneza. No mais frio inverno do pós-renascimento europeu, em plena mini era glacial, salvara o último carregamento de madeira com que alimentava a sua arte mergulhando-a nas água da lagoa, numa pequena enseada perto da ilhota de S. Pedro. Assim a preservara de ser transformada em lenha para aquecimento dos enregelados habitantes da cidade.
Também devido ao frio, as águas da lagoa, habitualmente ricas em boro, concentravam uma dose maior deste químico que invadiu os poros da madeira, expulsando lentamente todo o ar que nela se encontrava, tornando-a excepcionalmente dura e compacta. Devido ao fio daquela era, as árvores de que a madeira era proveniente haviam crescido com extrema lentidão e por isso aquela era de excepcional dureza, resistência, densidade e com fantásticas qualidades acústicas. Antoni, da família Stradivari, uma das três principais famílias de luthiers de Veneza, conseguiu assim produzir, ao longo de mais de uma década, cerca de mil instrumentos de excepcional qualidade, que nunca, em toda a história da humanidade, foi alguma vez igualada.
Giuseppe Tartini, um violinista mediano de Pirão, então parte do reino de Veneza, mas na actual Eslovénia, acérrimo adversário de Vivaldi, foi o primeiro a registar a excepcional qualidade dos instrumentos de Stradivari. Quando efectuou a descoberta, parou de escrever música e dedicou-se a teorizar sobre a acústica dos instrumentos de corda, depois de escrever uma das mais belas composições para violino, as sonatas I, II e III de Il trillo del Diavolo.

Giuseppe Tartini, Sonata I de Il Trillo del Diavolo

(interpretação de Oscar Shumsky)

NOTA: Nada do que se refere acima tem qualquer rigor científico, tratando-se tão somente de uma leitura romanceada de diversos artigos que se fez ao longo do tempo, depois de termos tido a sorte de tropeçar num concerto inesquecível de Anne-Sophie Mutter.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nada sei da dureza da madeira ou do boro, mas sei que aprecio instrumentos improváveis: clavicórdio, alaúde, e outros instrumentos de corda, que têm sempre madeira a ressoar.

Adoro também tocar a madeira.

Não sou grande apreciadora de violino, entranha-se-me uma tristeza de outono, mas reconheço a beleza da obra e a singularidade da marca que distingue.

Amo a música, e isso é quanto basta. T