18 de janeiro de 2008

L' avant-dernier mot

Fotografia: Evgen Bavcar

Notre avant-dernier mot

serait un mot de misère,
mais devant la conscience-mère
le tout dernier sera beau.

Car il faudra qu’on résume
tous les efforts d’un désir
qu’aucun goût d’amertume
ne saurait contenir.

Rainer Maria Rilke

17 de janeiro de 2008

Perfeitos Milagres


Não uma, mas três histórias que se entrecruzam. Alguns dos personagens conhecem-se, outros não, como na vida real. Parte da história foi escrita por Jacinto Lucas Pires durante um período em que viveu numa residência de escritores, nos arredores de Nova Iorque. Os personagens, uma estrela de rock em fuga, procurando livrar-se do seu estatuto após o suicidio inexplicado da sua companheira; dois jornalistas enviados especiais à procura de histórias; um grupo de teatro de rua à procura de um novo formato para as suas apresentações. Não há um fio narrativo, uno, nem um final feliz. Há coisas que acabam bem e outras menos bem, uma pulverização de soluções para os personagens que foge a uma inocência romântica. As personagens são actores em palco, por vezes com comportamentos quase surreais (ou não fosse Jacinto Lucas Pires igualmente um encenador e realizador) e com alguma comédia ou pelo menos requinte burlesco à mistura - visível, por exemplo, no anseio do grupo de teatro em representar a peça da morte da sua própria morte e no calão português utilizado por personagens supostamente americanas. Esquisito? Nem por isso, trata-se apenas da realidade dissolvida e reduzida a um papel secundário e subalterno à realidade da própria representação.

Em suma, é um bom livro, recomenda-se, mas ficamos com água na boca à espera daquele livro melhor que, seguramente, Jacinto Lucas Pires terá para dar.

Funny Animations

Yep, the man did it again...

Ultrathin. Ultra portable. And ultra unlike anything else.

Goste-se ou não, é impossível ficar indiferente a tudo o que este novo MacBook Air traz. Mormente, ao design, a pedra de toque, desde há muito tempo, de Steve Jobs. Saiu esta semana e já não chega para as encomendas.

Bem ou...


...
m

a
l
m
e
q
u
e
r
e
s
?

Hoje,
a circunstância
do apelo irresistível
de um abraço-relâmpago
roubado
à causa despótica
de um amor
multicolor

14 de janeiro de 2008

To Have and Have Not

You know you don't have to act with me. You don't have to say anything, and you don't have to do anything, Steve. Not a thing. Oh, maybe just whistle. You know how to whistle, don't you, Steve? You just put your lips together and... blow.



A cena, uma das mais conhecidas em toda a história do cinema, foi escrita por Howard Hawks, realizador de "To Have and Have Not", e era inicialmente um teste a Lauren Bacall. Todavia, a forma como Bacall interpretou a cena foi tão sugestiva e forte, que Hawks decidiu integrá-la no filme, muito embora não constasse do livro escrito por Hemingway. Na verdade, embora inspirado no livro de Hemingway, o filme apenas lhe é fiel durante os primeiros minutos, depois diverge para campos não abordados pelo escritor. Realizado em 1944, na Martinica, "To Have and Have Not" era visto como uma espécie de sequela de Casablanca, embora não rodado pelo mesmo realizador (Casablanca é de Michael Curtiz). Apesar disso, não teve o sucesso daquele ícone, sendo um clássico, mas não um grande filme. Teve contudo o enorme mérito de juntar a mulher mais bonita e sensual da história do cinema e o melhor actor de sempre - Humphrey Bogart - pela primeira vez. Ambos se conheceram e apaixonaram durante as filmagens, Bogart ia então no seu terceiro casamento.

"The ONLY kind of woman for his kind of man." Their palpable chemistry and electricity is sizzling as their relationship rapidly heats up (on-screen and off-screen), and they affectionately call each other "Slim" and "Steve.

Acerca do romance, um despeitado Howard Hawks terá dito que Bogart se apaixonou, não por Bacall, mas pela sua personagem - Marie - e assim, aquela terá tido que representar o papel durante o resto da vida de Bogart. Verdade ou não, pouco importa, casaram no ano seguinte e a união durou até à morte de Bogart, em 1957.

11 de janeiro de 2008

Fumus


Entre todas as dúvidas que a nova lei do fumo suscita, uma coisa parece certa e óbvia: não é proibido fumar no interior de templos, salas de culto e quejandos. A beata aqui não está, por enquanto, proibida.


Le Temps

Jerry Uelsmann, composição fotográfica a partir de vários negativos

Em que medida
o tempo é uma medida?
E podemos contá-lo, apontá-lo
vê-lo crescer, aninhar-se em cada canto,
sentir a Primavera, o Outono
e o Inverno do tempo que passa,
enquanto esperamos
pela chegada do Verão,
que pode nunca chegar. E se chegar?
E se nunca chegar? Ou sabemos,
porque assim aprendemos,
crianças de colo ainda,
e confiamos
que o Verão chega sempre.
Sempre.
E nos abandonamos
nos braços do tempo,
mesmo quando esse tempo
nos traz saudades de um tempo [ainda] ausente?
O Verão chega sempre.
Sempre.
O Verão há-de vir,
é preciso esperá-lo em sossego,
serenamente. Só assim
o amor é uma eternidade.

Breve Ensaio Sobre a Cegueira


O essencial é invisível aos olhos.

ASE

Nem tudo é cego na Justiça portuguesa

O bem deve ser salientado. Assim, ontem, no Tribunal de Albufeira, um julgamento agendado para começar ao meio-dia, começou mesmo a essa hora e decorreu, sem interrupções, até às 15 Horas. Juíza, funcionária e Delegada do Ministério Público trabalharam durante toda a hora de almoço, voluntariamente, sem pausa para refeição. É raro, louvável e de realçar, posto que não um costume nos nossos tribunais. A proeza foi do 2º Juízo daquele Tribunal. Chapeu bas, mes dammes!

9 de janeiro de 2008

Ainda sobre a Insustentável Leveza...

Marc Chagall

... há algum tempo que penso em Tomás, mas creio que apenas com base nessas horas de reflexão é que o pude ver distintamente, junto à janela do seu apartamento, olhando pelo pátio para as paredes do outro lado, sem saber o que fazer. Tomás conhecera Teresa cerca de três semanas antes, numa cidade no interior profundo da antiga Checoslováquia. Não tinham passado nem sequer uma hora juntos. Ela acompanhara-o à estação, aguardando a seu lado até que ele embarcou no comboio. Dez dias mais tarde, foi visitá-lo. Fizeram amor no dia em que ela chegou. À noite, ela caiu de cama com febre e, engripada, passou uma semana inteira no apartamento dele. Tomás acabou por nutrir um amor inexplicável por aquela completa desconhecida; ela parecia-lhe uma criança, uma criança que alguém colocara num cesto de vime revestido de alcatrão e que assim enviara rio abaixo, para que Tomás o apanhasse às margens de sua cama.
Teresa ficou com ele quase uma semana, até se recuperar, regressando em seguida para a sua cidade, a uns duzentos quilómetros de Praga.
E chegou então o momento que mencionei há pouco, que vejo como a chave da sua vida: postado junto à janela, ele olhava por sobre o pátio para as paredes em frente, ponderando. Devia chamá-la de volta a Praga para sempre? Temia a responsabilidade. Se a convidasse, ela viria, oferecendo-lhe a própria vida. Ou devia evitar uma aproximação? Nesse caso, ela permaneceria sendo uma empregada de copa num restaurante de hotel de uma cidade do interior, e ele jamais a veria novamente.
Queria ou não que ela viesse? Olhando por sobre o pátio para as paredes em frente, Tomás procurava por uma resposta.
(...)

Olhando por sobre o pátio para as paredes sujas, Tomás percebeu que não tinha a menor ideia se aquilo era histeria ou amor. E afligiu-se por, numa situação na qual um homem verdadeiramente saberia de imediato como agir, estar a vacilar, privando de sentido os momentos mais belos que já vivera (ajoelhado à beira da cama, pensando que não sobreviveria se ela morresse).
Irritou-se consigo próprio, até perceber que, na verdade, era bastante natural que não soubesse o que queria. Jamais nos é possível saber o que queremos, pois, vivendo uma única vida, não podemos compará-la às nossas vidas anteriores, ou aperfeiçoá-la em vidas futuras. Era melhor ficar com Teresa ou sozinho? Não há como testar qual decisão é a melhor, porque não há base para comparação. Vivemos as coisas conforme elas se apresentam, desavisados, como um actor que entra num palco sem ensaiar.
De que vale a vida, se o primeiro ensaio para ela é a própria vida? É por isso que a vida é sempre como um esboço. Não, "esboço" não é bem a palavra, porque um esboço constitui-se das linhas gerais de alguma coisa, a base de uma pintura, ao passo que esse esboço que é nossa vida é um esboço de coisa alguma, linhas gerais de pintura nenhuma.
Einmal ist keinmal, diz Tomás a si mesmo. O que só acontece uma vez - afirma o provérbio alemão - melhor seria que não tivesse acontecido. Se temos uma única vida para viver, melhor seria não termos vivido?


Milan Kundera, tradução livre a partir de uma versão inglesa de "A Insustentável Leveza do Ser"

Tativille

O aparecimento do som no cinema permitiu-lhe ganhar essa enorme riqueza resultante do cruzamento do som e da imagem. Evidentemente, a expressividade da representação sem som não voltará a ser a mesma, mas este é um dos casos em que há males que vêm por bem. Todavia, muito depois do aparecimento do som, alguns realizadores optaram apenas por utilizar a vertente do ruído e sons em alguns dos seus filmes, em detrimento do diálogo. Um deles foi Jacques Tati, para quem o diálogo é reduzido à sua mais ínfima expressão ou é mesmo suprimido, mantendo-se apenas o ruído e o som ambiente em complemente da expressividade do quase-silêncio das personagens. Chegamos assim a situações caricaturais mas genialmente ridículas, de uma expressividade corporal quase surreal, como sucede, por exemplo, em Playtime - reproduzido abaixo - ou em Mon Oncle, ambos filmes de um extraordinário e refinado humor. O sucesso resulta em larga medida dos planos estudados ao pormenor, como por exemplo ruído de passos num longo corredor, ranger de portas, murmúrios de actores e até o respirar destes. Simplesmente brilhante. Como o site do realizador, a visitar demoradamente.



Playtime, 1967, de Jacques Tati

8 de janeiro de 2008




Silence 4








(bom dia, o Sol nasceu - envergonhado - às 07.47H, põe-se às 17.33H, há uma humidade relativa no ar de 88% e possibilidade de aguaceiros; não nos parece que esteja tempo favorável para a prática da escrita)

6 de janeiro de 2008

The Unbearable Lightness...

Lena Olin, "The Unbearable Lightness of Being", Philip Kaufman, 1988
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Na Única do Expresso desta semana, uma pequena notícia sobre Daniel Day-Lewis e o seu novo filme - "There Will be Blood" - para cujo papel se preparou activamente durante dois anos. Day-Lewis faz pouquíssimos filmes, mas o que faz é normalmente bom. "O Meu Pé Esquerdo", "Gangues de Nova Iorque", "A Idade da Inocência", "O Boxeur", "Gandhi" e "Sunday Bloody Sunday", são, entre outros, alguns desse títulos. Mas há mais. Um bom exemplo: há dias falavamos de Juliette Binoche a propósito de "Três Cores: Azul". Lewis e Binoche contracenaram juntos em "A Insustentável Leveza do Ser", de Philip Kaufman (1988), juntamente com Lena Olin. Vi o filme pouco tempo depois da leitura do livro de Milan Kundera; a parte estética ficou preenchida com o trabalho de Kaufman, embora isso não tenha resultado completamente noutros campos - o personagem de Tomás fica esvaziado de conteúdo no filme, sendo extremamente rico no livro. Mas aqui, Binoche (Teresa), Lewis (Tomas) e uma surpreendente Lena Olin (Sabina) dão corpo de forma superior às personagens de Kundera.
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Italo Calvino, na sua crítica à obra resumiu-a assim: "O peso da vida, para Kundera, está em todas as formas de opressão. Este livro mostra-nos como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba por se revelar de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação - as qualidades da escrita de Kundera pertencem a um universo que não se limita aquele do viver".

E é, de facto, esse, o drama de Sabina: "O que lhe acontecera ao certo? Nada. Deixara um homem porque queria deixá-lo. Esse homem tinha vindo atrás dela? Tinha querido vingar-se? Não. O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."
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[É que,]
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"... Franz é forte, mas a força dele está unicamente voltada para fora. Com as pessoas com quem vive, com aqueles que ama, é muito fraco. A fraqueza de Franz chama-se bondade.
[...]
Então [Sabina] perguntou a Franz:
- E porque é que de tempos a tempos não te serves da tua força contra mim?
- Porque amar é renunciar à força', disse Franz, com doçura.
Sabina percebeu duas coisas: primeiro, que aquela frase era bela e verdadeira; segundo, que, com aquela frase, Franz acabara de se desvalorizar para sempre na sua vida erótica"

Esta manhã, divagando por Berlim e Bertolt Brecht


Um dia
sob o céu azul de Setembro
silenciosamente, debaixo de uma ameixeira,
envolvi-a
[à minha pálida amante]
em meus braços,
como num sonho belo,
encantador.
Acima de nós,
no lindo céu de verão
uma nuvem atravessou-me o olhar.
Branca, muito branca
alta, muito alta
leve, insustentavelmente leve.
Ao entardecer, olhei novamente. Desaparecera.
Simplesmente. Sem deixar qualquer vestígio.

3 de janeiro de 2008

2 de janeiro de 2008

Ainda sobre Zbigniew Preisner

Teresa Salgueiro, por Samalugi

Ainda sobre Zbigniew Preisner. O compositor polaco sempre foi muito mais que as suas bandas sonoras. Prova disso mesmo é o seu novo trabalho Silence, Night & Dreams (Emi Classics, 2007) , uma composição para orquestra, coro e solistas discorrendo em torno de textos seleccionados do Livro de Jó, do Evangelho de S. Mateus, assim como textos de João Paulo II e do poeta polaco Zbigniew Herbert. As letras das músicas são escritas em latim e inglês, destacando-se a participação de Teresa Salgueiro, agora mais disponível após o fim da sua ligação permanente aos Madredeus, em Novembro de 2007.

Uma entrevista ao compositor e a Teresa Salgueiro a propósito de Silence, Night & Dreams:


Silence, Night & Dreams

Uma outra grande composição de Preisner é Requiem For My Friend, celebração em dois actos da morte (Requiem) e da vida (Life). Cada parte tem nove movimentos destinados a orquestra, coro e solistas igualmente. Inicialmente pensada para ser uma composição destinada a ser apresentada em diversas salas de espectáculos em todo o mundo numa produção conjunta de Preisner, Kieslowski e Piesiewicz, a morte prematura de Kieslowksi veio modificar tudo. Assim, a primeira parte de Requiem For My Friend transformou-se numa imperdível homenagem a Krzystof Kieslowski - Qui erat et qui est (acto sete).

"Once, we had a joint conception to create a concert telling a life story. The premiere was planned to take place on the Acropolis in Athens. It was intended to be a large event, a hybrid of a mystery play and an opera. Krzysztof Kieslowski would be the director, Krzysztof Piesiewicz was responsible for the script, and I was planning to compose the music. Once, we thought it might be the first of a series of musical performances, to be developed in various interesting places around the world in the next few years. But it was life that authored a different ending: Krzysztof Kieslowski died on 13th March 1996. The first part of Requiem for my friend is meant as a farewell to Krzysztof Kieslowski. I dedicate this music to him".

Zbigniew Preisner

Optimus Tactus

Um parentesis: para já, estou convertido ao conceito do teclado sem fios Optimus Tactus da genial Art.Lebedev Studio, que se pretende comece a ser comercializado em 2008. Ainda não está definido qual o tamanho do ecrã que será utilizado nem a dimensão do teclado, que dependerá disso. Uma vez que 2008 deverá ser o ano da democratização do e-book (embora o prazer da leitura de um bom livro em papel se mantenha insubstituível), esta poderá ser uma boa compra, porque concentra num único dispositivo uma infinidade de funções. Aguardo com impaciência, confesso.
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O Conceito
Typing Mode
Video Mode