16 de julho de 2012

Quo Vadis Europa II


Há pouco mais de um ano escrevíamos neste blog sobre "Filme Socialismo" de Jean-Luc Godard, poucas semanas após o seu lançamento entre nós. Sobre a metáfora da Europa ali representada por varias famílias de línguas diversas, à deriva por locais icónicos (irónicos?) como o Egito, a Palestina, Odessa, ou a Grécia, num luxuoso cruzeiro a bordo de um paquete.

Os valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade questionados nas entranhas do navio onde o cruzeiro se desenrola, que não é outro senão, premonitoriamente(?), o Costa Concordia, naufragado meses depois da estreia do filme de Godard.

Desde então, à rotineira situação da Palestina juntou-se, surpreendentemente, o Egito. E depois, aos pouco, por motivos diferentes, a Europa, em torrente depressiva. A mesma Europa que no filme anda à deriva sob o slogan "La liberté coûte cher". A Europa multicultural  representada até na banda sonora escolhida - que se consome entre os atentados de Oslo e as provações dos que tentam aportar às suas praia através do Mediterrâneo -, sem líder e sem timoneiro, como o navio sem Schettino, à mercê dos escolhos, à vista de terra, naufragando enfim sob o impávido e enganado olhar de quem se julga ao abrigo do naufrágio, por estar em solo firme, na praia de Giglio ou num gabinete climatizado em Berlim.

A Europa, toda a Europa, representada num filme que, depois de 2011, relança como nenhum outro a questão que titula este post: "Quo Vadis, Europa?". Quanto custa a tua liberdade, a tua igualdade, a tua fraternidade, nos tempos que correm, com os governantes que tens?

8 de julho de 2012

Parece que ficamos por aqui...

... e ainda ontem Florentino Ariza ia iniciar o seu vaivém rio acima e rio abaixo. E nenhum coração era demasiado frágil para sobreviver a cem anos de solidão ou a um amor em tempo de cólera. Ainda há pouco, sessenta anos à espera de um amor pareciam sensatos. Razoáveis até, graças a Gabriel Garcia Marquez. E desde então a literatura do realismo sul americano legou-nos a dimensão interminável do amor que algumas películas mexicanas retrataram. A utopia de mão dada com o realismo, do amor, da vida, da literatura. Ninguém viverá para "contarla",mas provavelmente não é preciso, pois não?

Um triste folhetim, este da suposta demência do Nobel. Que importa? Até Garcia Marquez é mortal e mesmo o vaivém da literatura, como o da vida tem um fim. Nesta fase da vida de Gabo, o seu Outono do Patriarca, mais do que discutir o estado do homem importa a obra no seu conjunto. Importa por isso que fiquemos por aqui no mais que extravase esse campo. Não é o fim, mas por agora e provavelmente para sempre, é tudo.