10 de dezembro de 2019

Song of Myself (26)

Now I will do nothing but listen,
To accrue what I hear into this song, to let sounds contribute toward it.
I hear bravuras of birds, bustle of growing wheat, gossip of flames, clack of sticks cooking my meals,
I hear the sound I love, the sound of the human voice,
I hear all sounds running together, combined, fused or following,
Sounds of the city and sounds out of the city, sounds of the day and night,
Talkative young ones to those that like them, the loud laugh of work-people at their meals,
The angry base of disjointed friendship, the faint tones of the sick,
The judge with hands tight to the desk, his pallid lips pronouncing a death-sentence,
The heave'e'yo of stevedores unlading ships by the wharves, the refrain of the anchor-lifters,
The ring of alarm-bells, the cry of fire, the whirr of swift-streak-
ing engines and hose-carts with premonitory tinkles and color'd lights,
The steam-whistle, the solid roll of the train of approaching cars,
The slow march play'd at the head of the association marching two and two,
(They go to guard some corpse, the flag-tops are draped with black muslin.)
I hear the violoncello, ('tis the young man's heart's complaint,)
I hear the key'd cornet, it glides quickly in through my ears,
It shakes mad-sweet pangs through my belly and breast.
I hear the chorus, it is a grand opera,
Ah this indeed is music—this suits me.
A tenor large and fresh as the creation fills me,
The orbic flex of his mouth is pouring and filling me full.
I hear the train'd soprano (what work with hers is this?)
The orchestra whirls me wider than Uranus flies,
It wrenches such ardors from me I did not know I possess'd them,
It sails me, I dab with bare feet, they are lick'd by the indolent waves,
I am cut by bitter and angry hail, I lose my breath,
Steep'd amid honey'd morphine, my windpipe throttled in fakes of death,
At length let up again to feel the puzzle of puzzles,
And that we call Being.

Walt Whitman 

13 de agosto de 2019

Van Gogh and Britain

Encerrou há dias "The Ey Exhibition: Van Gogh and Britain" um exposição que esteve patente na Tate Britain, em Londres. A mostra revelava cinquenta trabalhos do pintor - que viveu em Londres - com a intenção de mostrar a influência dos artistas britânicos no trabalho de Van Gogh e vice-versa. 
A exposição revelava, ao longo de nove salas, em particular, as influências de Dickens e George Elliot, a partir da literatura, mas também de Constable e Millais, na pintura. Por outro lado, patenteava a influência do holandês nos trabalhos de Bacon, Bomberg, Harold Gilman ou Spencer Gore, entre outros, na escola dos modernistas britânicos. Embora apenas dividida em duas secções, a exposição esteve perfeitamente organizada, porque escalada em três momentos: as influências inspiradoras, o resultado no trabalho do artista e a influência posterior do trabalho de Van Gogh nos britânicos. Na mostra figuravam trabalhos maiores do pintor, como os Girassóis da National Gallery ou a Noite Estrelada sobre o Reno do Museu de Orsay.




Entretanto, não deixo de [como poderia?] estabelecer a este propósito uma ponte com o poema de William Blake 


London
I wander thro' each charter'd street
Near where the charter'd Thames does flow
And mark in every face I meet
Marks of weakness, marks of woe.

Humildemente, altero os versos de Blake
My thoughts wander
near by the Thames
where my heart flows
helplessly
searching in every face
for the warmth of your vows.


Mais adiante, descendo o Tamisa, porventura ainda inspirado por uma das gravuras de Gustave Doré, detenho-me um pouco à beira-rio, não longe do local retratado por este último, onde traduzo livremente aqueles versos, num impulso:


Londres
A minha alma
flutua junto ao Tamisa
onde em surdina
o meu coração bate
enquanto evoca o teu nome
procurando o reflexo do teu rosto
no de quem passa
ou nas águas adormecidas
junto à margem


Parafraseio por fim Harold Gilman, que mantinha um retrato do pintor no seu atelier e, antes de começar a pintar, saudava-o com o pincel e uma vénia, enquanto soltava um proverbial "à toi Van Gogh!".

Destinos

Estes passos
[os teus]
encontro-os
[nos meus]
Outros passos
Outros rastos
passados
não se ignoram
São destinos comuns
Não se curvam
Não se vêem
não se ignoram
Caminham
Assim
de encontro
a um destino
comum
ao encontro
de ti

1 de março de 2019

O teu nome

O teu nome no mar profundo
todas as noites intacto
o rosto o corpo
refletidos no azul da água
acima das ondas sem tempo

Em silêncio
ouço o rumor do vento
e reaprendo os dias
enquanto derramo as horas
pelas frestas iluminadas das janelas

As mãos em concha
amparam palavras
relâmpagos sem fim da alma
que se desfaz em gotas de água
e rega os lírios

O teu nome no mar profundo
Aqui... o escrevo

4 de fevereiro de 2019



But we need the books that affect us like a disaster, that grieve us deeply, like the death of someone we loved more than ourselves, like being banished into forests far from everyone, like a suicide. A book must be the axe for the frozen sea inside us. That is my belief.

Franz Kafka, letter to Oskar Pollack, 1904

18 de janeiro de 2019

Nostalgia

Em outubro de 2018 a Deutsche Grammophon publicou o álbum Destination Rachmaninov * Departure, interpretado por Daniil Trifonov em conjunto com a Orquestra de Filadélfia. O trabalho contém os concertos para Piano e Orquestra nº2 e nº 4 do compositor russo e também a partitura nº 3 para violino de Johann Sebastian Bach. A foto de capa do álbum apresenta um Trifonov nostálgico, no interior de uma carruagem de comboio de época, porque o primeiro andamento do Concerto para Piano e Orquestra nº4 é, segundo uma entrevista de Trifonov, "como uma locomotiva a andar pelos carris". 

João Santos, no Expresso de 5 de janeiro, desenhou um círculo perfeito com a crónica que dedicou ao lançamento do álbum, pois escreveu um artigo sublime, pleno de sensibilidade e bom gosto, onde combina de forma requintada o poema "Ludwig W. em 1951" de Manuel António Pina (dedicado a Ludwig Wittgenstein) com um diálogo "excruciante" extraído da peça "Natureza Morta"  de Noël Coward ("Still Life" no original de 1936), posteriormente adaptada ao cinema por David Lean com o título original "Brief Encounter". No filme, o encontro/desencontro de Alec e Laura decorre sob a pauta sonora do Concerto para Piano nº2 de Rachmaninov, que também faz parte do álbum de que falamos. Este é imperdível, mas o artigo de Santos é também uma pequena sinfonia que não podemos deixar de ler e por isso a reproduzimos ao lado.

15 de janeiro de 2019

Uma cor incondicional




Solar. (In)condicional
Dói
por exemplo
Uma centelha
um feixe de luz
poros abertos
A respiração
dói
Uma ferida aberta
                            fendas luminosas
dói
as sílabas
as palavras
o silêncio
dói
             a ausência
o tempo
a cegueira
as constelações
a banalidade do mogno

dói
a linguagem extenuante da verdade própria
uma visão fulminante
o sentido de tudo
a infusão da impossibilidade
                                              Quando.

11 de janeiro de 2019

Alento


Nada a não ser o fogo
A areia húmida debaixo dos meus pés 
A noite a cair sobre os meus ombros
O zumbido dos insetos 
O brilho das estrelas
O apagar do sol
O adeus
O repouso