Hoje dormirei
no sono se perde uma memória
transfigurada, em rodopio
em corropio vazio de intimidade
batida por golpes de silêncio
olhares desviados transviados
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras secretas, passadas
Hoje dormirei
profundamente
sem palavras, sem promessas
ou pétalas espalhadas pelo vento
sem pingo de sangue nem seiva
flores frias a secarem devagar
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras límpidas, amargas
Hoje dormirei
sem melancolia
ou a sofreguidão da primavera
porque se apagaram as luzes
porque se calaram as vozes
porque se devorou a alegria
das pequenas coisas
dos pequenos beijos
palavras vãs, imortais
Hoje estou sereno
ao leme das palavras
completamente vivo
voz emudecida
cantando baixinho
palavras secretas
palavas límpidas
palavras vãs.
20 de novembro de 2018
15 de novembro de 2018
Quietly
Sigur Rós, Svo Hljòtt (Takk, 2005)
Avisto a causa do meu tormento
o céu a fechar-se sobre o contentamento
Aos poucos porei os olhos
na minha alma subjugada
donde pende o meu desejo
De dia em dia, de ano a ano
nada, engano
amor vão, onde ponho o pensamento
ao sabor do vento
do descontentamento.
Quanto mais me chego menos vejo
a cada momento
amor tirano, frágil
abandonado
e sem fundamento
sem horas, sem limites
13 de novembro de 2018
O pós-pessimismo
A manhã nunca pede mais que uns versos
Depois da noite morrer longe
medindo o pulso à eternidade
na sombra da chama de uma vela
o dia é um pseudónimo
para o brilho do Sol que nos inebria
de luz para enganar as sombras
o rasto do escuro
Finjo crer, na madrugada,
que havemos de ir a Veneza
ou a Viena empolgados por projetos
que persistem perenes
Atiro a chave do pessimismo pela janela
Quem me dera um bulldozer
para arrasar esta visão
e asfixiar satisfatoriamente
o presente que não existe.
- Parvo!
[chama-me o teu sorriso que apaga todas as sombras]
Depois da noite morrer longe
medindo o pulso à eternidade
na sombra da chama de uma vela
o dia é um pseudónimo
para o brilho do Sol que nos inebria
de luz para enganar as sombras
o rasto do escuro
Finjo crer, na madrugada,
que havemos de ir a Veneza
ou a Viena empolgados por projetos
que persistem perenes
Atiro a chave do pessimismo pela janela
Quem me dera um bulldozer
para arrasar esta visão
e asfixiar satisfatoriamente
o presente que não existe.
- Parvo!
[chama-me o teu sorriso que apaga todas as sombras]
2 de novembro de 2018
Uma nesga de rio
O dia acaba
com uma nesga de sol
filtrada por um vidro de janela
A pouca luz
enrola-se na noite
que abraça a terra
e o dia expira no eco longínquo
de um lento pulsar
Para a minha alma
apenas queria uma noite assim
encoberta pela névoa
flutuando sobre o rio
uma barcaça de cordas e madeiras
sem barqueiro
singrando rio abaixo
pela eternidade
Olho os vultos na margem
estátuas em cada lugar
com uma nesga de sol
filtrada por um vidro de janela
A pouca luz
enrola-se na noite
que abraça a terra
e o dia expira no eco longínquo
de um lento pulsar
Para a minha alma
apenas queria uma noite assim
encoberta pela névoa
flutuando sobre o rio
uma barcaça de cordas e madeiras
sem barqueiro
singrando rio abaixo
pela eternidade
Olho os vultos na margem
estátuas em cada lugar
Testemunhas imóveis
da história destas águas
Aguas
correndo, percorrendo
correndo, percorrendo
Vidas sem fim
vielas
onde se cumpriu
o que se cumpriu
Na alvorada,
o Sol brilha
beija a fonte, a erva fresca
o orvalho transparente adormece
um sorriso em murmúrio
sobe-me à cabeça
eu próprio
Adormeço
vielas
onde se cumpriu
o que se cumpriu
Na alvorada,
o Sol brilha
beija a fonte, a erva fresca
o orvalho transparente adormece
um sorriso em murmúrio
sobe-me à cabeça
eu próprio
Adormeço
29 de outubro de 2018
Aqui não há poeta porque
Um poeta
administra a tristeza
parcimoniosamente
tem a cabeça na infância
e o coração na ambulância.
administra a tristeza
parcimoniosamente
tem a cabeça na infância
e o coração na ambulância.
26 de outubro de 2018
A noite
Esta noite
flutua
tem um nome
não o da lua
ou de quem a contempla
Esta noite
é clara
sem fadiga na alma
embalada
por pedacinhos de papel
rasgados
da memória
soprados pelo vento
Esta noite
cai sobre a terra
não se vai embora
acende-me
para sempre
flutua
tem um nome
não o da lua
ou de quem a contempla
Esta noite
é clara
sem fadiga na alma
embalada
por pedacinhos de papel
rasgados
da memória
soprados pelo vento
Esta noite
cai sobre a terra
não se vai embora
acende-me
para sempre
Chuva
- Ouves?
a chuva a bater na porta
nas pedras da calçada
na escada do terraço
tudo está debaixo de água
como palavras
brotando devagar de uma nascente
do bater de asas de uma borboleta
compassadamente
para me entontecer
- Vês?
a claridade
a luminosidade dos dias
eriçando as noites
empalidecendo as horas
- como paisagens
invisíveis pintadas
rostos de sorrisos voláteis
crianças correndo mergulhadas
em sonhos de oiro
- Sentes?
a vida a desfilar
num poema contínuo
de asas estendidas
exalando a serenidade
dos dias
a chuva a bater na porta
nas pedras da calçada
na escada do terraço
tudo está debaixo de água
como palavras
brotando devagar de uma nascente
do bater de asas de uma borboleta
compassadamente
para me entontecer
- Vês?
a claridade
a luminosidade dos dias
eriçando as noites
empalidecendo as horas
- como paisagens
invisíveis pintadas
rostos de sorrisos voláteis
crianças correndo mergulhadas
em sonhos de oiro
- Sentes?
a vida a desfilar
num poema contínuo
de asas estendidas
exalando a serenidade
dos dias
22 de outubro de 2018
Aqui
Queria dizer-te onde estiveres
meu amor, que hoje fez sol
Se o teu rosto aqui estivesse
os teus olhos iluminar-se-iam
e varreriam a aridez das minhas palavras
A tua boca abrir-se-ia
como a estrela
da madrugada
refletindo o seu sorriso
na lua no rio
em segredo
as minhas mãos banham-se nas tuas águas
e acariciam a tua luz diáfana.
meu amor, que hoje fez sol
Se o teu rosto aqui estivesse
os teus olhos iluminar-se-iam
e varreriam a aridez das minhas palavras
A tua boca abrir-se-ia
como a estrela
da madrugada
refletindo o seu sorriso
na lua no rio
em segredo
as minhas mãos banham-se nas tuas águas
e acariciam a tua luz diáfana.
19 de outubro de 2018
Estados transitórios
ver no espelho
a alegria ou a tristeza
sentir
o pânico ou o lume
o calor
os lábios, os nervos
o rumor
da lenha a crepitar
o teu perfume
a convulsão das pequenas coisas
a soprar-me lentamente
para o mar
a alegria ou a tristeza
sentir
o pânico ou o lume
o calor
os lábios, os nervos
o rumor
da lenha a crepitar
o teu perfume
a convulsão das pequenas coisas
a soprar-me lentamente
para o mar
17 de outubro de 2018
Mediterrâneo
Nada
reduzido a nada
a alegria multiplicada por tudo
o mundo de pernas para o ar
o vento assobiando nas copas
raras
rios nascendo no mar
paisagens percorridas em vertigem
oceanos trespassados
por sons subliminares da alma
figuras voláteis
nómadas
flutuando em portos recônditos
esboçando sonhos
ao sol esvoaçando
um canto
[onde estás pequena emilie?]
azul
a sul
sem sul
nem norte
rebelde
O que vejo não se canta
enterra-se na areia
em silêncio
e marca-se um "x"
no mapa
como um tesouro
reduzido a nada
a alegria multiplicada por tudo
o mundo de pernas para o ar
o vento assobiando nas copas
raras
rios nascendo no mar
paisagens percorridas em vertigem
oceanos trespassados
por sons subliminares da alma
figuras voláteis
nómadas
flutuando em portos recônditos
esboçando sonhos
ao sol esvoaçando
um canto
[onde estás pequena emilie?]
azul
a sul
sem sul
nem norte
rebelde
O que vejo não se canta
enterra-se na areia
em silêncio
e marca-se um "x"
no mapa
como um tesouro
25 de setembro de 2018
Os dias
Os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
de constelações calcárias
largas
como gárgulas
sorridentes
imortalizando
a imensidão da doçura humana
os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
como poemas contínuos
danças ambíguas
plenas de graça e beleza
imóveis
no firmamento
ópticos
sinópticos
às noites
de constelações calcárias
largas
como gárgulas
sorridentes
imortalizando
a imensidão da doçura humana
os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
como poemas contínuos
danças ambíguas
plenas de graça e beleza
imóveis
no firmamento
13 de setembro de 2018
23 de agosto de 2018
14 de agosto de 2018
7 de agosto de 2018
Et cetera
Nunca falo de noite
nunca tenho alucinações
pesadelos
ou sonhos inquietantes
não sei de que matéria
se alimenta
o meu sono
No entrançado
dos meus sentidos
Não construo cenários
nem faço vigílias
A idade, esse monstro
que nos transforma
não me faz gravitar outras realidades
É essa a verdade
astrológica
a minha dança imóvel
a minha realidade pulmonar
alveolar
A claridade atómica coada por um copo cheio
sobre o qual se fecham os meus lábios sedentos
de uma ponta de cigarro
- Que têm contra os cigarros?
Mas dizia
a claridade atómica das palavras
despoletada por reações em cadeia
excessos vocais
sinais
terminais
coisas nominais
que com a luz se ocultam em águas providenciais
pela manhã cristalizam num rosto
encimado por um diadema precioso
Sorri
-me :-)
Acordo.
O mundo flutua
Et
cetera
nunca tenho alucinações
pesadelos
ou sonhos inquietantes
não sei de que matéria
se alimenta
o meu sono
No entrançado
dos meus sentidos
Não construo cenários
nem faço vigílias
A idade, esse monstro
que nos transforma
não me faz gravitar outras realidades
É essa a verdade
astrológica
a minha dança imóvel
a minha realidade pulmonar
alveolar
A claridade atómica coada por um copo cheio
sobre o qual se fecham os meus lábios sedentos
de uma ponta de cigarro
- Que têm contra os cigarros?
Mas dizia
a claridade atómica das palavras
despoletada por reações em cadeia
excessos vocais
sinais
terminais
coisas nominais
que com a luz se ocultam em águas providenciais
pela manhã cristalizam num rosto
encimado por um diadema precioso
Sorri
-me :-)
Acordo.
O mundo flutua
Et
cetera
6 de agosto de 2018
Incandescências
Dormir com a noite
pintar a incandescência dos dias
saltitar o amor
ocupando os espaços terrenos
ressuscitando palavras
sem idiossicrasias
palavras
antes adormecidas nos pátios
pendendo nos beirais
vozes
cantam os dias
flutuam colina acima
espelhando estrelas
respiram
como tubos de órgão
entoando melodias
pintar a incandescência dos dias
saltitar o amor
ocupando os espaços terrenos
ressuscitando palavras
sem idiossicrasias
palavras
antes adormecidas nos pátios
pendendo nos beirais
vozes
cantam os dias
flutuam colina acima
espelhando estrelas
respiram
como tubos de órgão
entoando melodias
3 de agosto de 2018
canícula
que canícula
que espinhos
que raiz
Arde
Arde tudo
em labareda viva
dentro e fora
tudo calcinado
sem ar
elementar
11 de julho de 2018
"Isso"
Acontece-nos dizer "isso"
como uma palpitação
ou antes uma excitação
a expressão de um rosto
uma labareda
a aleg(o)ria de um verbo
toda a gramática
dos versos
"isso tudo"
o modo de virar a cabeça
o bater do coração
uma maçã colhida
uma árvore
a luz coada pela folhagem
luz sonhada
a órbita desenhada pelo amor
húmido, quente, fecundo
a espera
- apetece-te?-
um prado
um picnic
uma música
o silêncio
o sussurro de um segredo
a vida inteira
“isso”
“isso”
5 de julho de 2018
Kronos Quartet
Kronos Quartet, Requiem for a Dream
Em 1973 o estudante David Harrington (violinista), então com 15 anos, ficou impressionado com uma atuação do quarteto The Black Angels de George Cromb. Pareceu-lhe então que a música de Cromb sintetizava na perfeição toda a revolta que sentia contra as ações militares dos EUA, em particular a guerra no Vietname. Procurou, por isso, juntar um grupo de instrumentistas para interpretar os Black Angels o que, percebeu, não se afigurava fácil. O grupo teve de trabalhar muito e reaprender técnicas novas de interpretação dos instrumentos musicais, fazendo inúmeras pesquisas que contribuiram para aumentar o seu repertório. Na altura, quase toda a música para quartetos de cordas conhecida havia sido composta por Haydn, Schubert, Mozart e Beethoven, numa pequena área em redor de Viena, como se o resto do mundo não existisse ou tivesse sonoridade própria.
Assim, a linha que o que o Kronos Quartet adotou foi a de reinterpretar não apenas as composições clássicas, mas igualmente incorporar nas suas representações trabalhos de artistas improváveis, de outras origens ou áreas musicais, como o jazz ou a música folclórica, passando pelo tango, bandas sonoras para cinema ou interpretações de música antiga e clássica. Neste já longo percurso de mais de quarenta anos, o Kronos Quartet colaborou com músicos como Phillip Glass (minimalista), Kimmo Pohjonen (finlandês, acordionista, que já passou por Loulé) ou Nelly Furtado, mas também Islam Chipsy (egípcio, virtuoso do Chabi eletrónico ), Fodé Lassana Diabaté (maliano) ou Bryce Dessner (americano, membro dos The National).
O Kronos Quartet toca hoje em Lisboa, nas ruínas do Convento do Carmo, num momento dificilmente repetível.
A moment is gone
the moment you close your eyesO Kronos Quartet toca hoje em Lisboa, nas ruínas do Convento do Carmo, num momento dificilmente repetível.
A moment is gone
A moment is gone
when you hear the same old song
or read the same old book
it won't come back
that moment
won't come back
It's wind
it won't come back
that moment
won't come back
It's wind
It's a dream
27 de junho de 2018
24 de junho de 2018
Fácil
Patricia Barber, "Code Cool"
Nem sempre era fácil
nos idos de janeiro
em meados de abril
maio adentro
No solstício de junho
quando te saíam as lágrimas
os soluços
duvidavas
e partias
perdia-Te
perdiamo-nos
e morriamos aos poucos
Eramos jovens e por isso
a óbvia imortalidade do amor
Se tornou menos óbvia
Até que Um dia
Um dia em idos de janeiro
meados de abril
maio adentro
no solstício de junho
o amor
que era óbvio
ja não era Inquestionável
e assim perdia-Te
aos poucos um dia de cada vez
em idos de janeiro
meados de abril
maio adentro
no solstício de junho
quando deixei
de estender-te as mãos
à procura do óbvio
à espera do inquestionável
21 de junho de 2018
Haikais soltos
O gele derrete
arrefece a água
Eu ardo.
.
Despede-se Hoje
a primavera
olha pela janela
.
O vento sopra
retorce-se de saudade
vazio de ti
.
Amanhã renasço
para encarnar
em ti
16 de junho de 2018
O segredo
o segredo
[uma tempestade vista
pelos teus olhos]
encerra-se neste poema
escrito
à sombra dos jacarandás
em junho
a caminho do equinócio
Nós cegos
pela luminosidade das palavras
e a obscuridade dos poemas
batidos pelos último pingos de chuva
Procuramos
no aluvião das sílabas
no interior dos silêncios
[Instantes]
a que nos agarrarmos
fintando a sorte da memória
as mãos
pousadas em forma de líquen
sobre a pele.
O segredo
[as palavras que não te disse
nem escrevi]
são folhas riscadas
rasgadas
abandonadas debaixo do parapeito
Queria
pedir que as esquecesses
mesmo que as não tenhas lido
ou ouvido
para depressa as banirmos da memória
e fecharmos as pálpebras
O segredo
é que escrevo
a verdade
a mentir.
[uma tempestade vista
pelos teus olhos]
encerra-se neste poema
escrito
à sombra dos jacarandás
em junho
a caminho do equinócio
Nós cegos
pela luminosidade das palavras
e a obscuridade dos poemas
batidos pelos último pingos de chuva
Procuramos
no aluvião das sílabas
no interior dos silêncios
[Instantes]
a que nos agarrarmos
fintando a sorte da memória
as mãos
pousadas em forma de líquen
sobre a pele.
O segredo
[as palavras que não te disse
nem escrevi]
são folhas riscadas
rasgadas
abandonadas debaixo do parapeito
Queria
pedir que as esquecesses
mesmo que as não tenhas lido
ou ouvido
para depressa as banirmos da memória
e fecharmos as pálpebras
O segredo
é que escrevo
a verdade
a mentir.
15 de junho de 2018
Polly Jean, I love you. I love the texture of your skin, the taste of your saliva, the softness of your ears. I love every inch and every part of your entire body. From your toes and the beautifully curved arches of your feet, to the exceptional shade and warmth of your dark hair. I need you in my life, I hope you need me too.
5 de junho de 2018
Lucidez
Lábios
água
molhados
sémen
cabelos
suponho que muitas noites
deveriam terminar assim
varadas
pela luz
água
molhados
sémen
cabelos
suponho que muitas noites
deveriam terminar assim
varadas
pela luz
Noite
Somos
os novos mercadores
do amor
No silêncio
na bruma
coração extraviado
história desfiada
sentimentos incandescentes
esfumando-se
como pontas de cigarro
sem alicerces
amolecidos pelo tempo
gravados em calcário
medo
uma vida
apenas uma
nenhuma mais
à deriva
incorrigível realidade
lábios separados
palavras que nunca se dirão
noite
sem fim
tempo infinito
os novos mercadores
do amor
No silêncio
na bruma
coração extraviado
história desfiada
sentimentos incandescentes
esfumando-se
como pontas de cigarro
sem alicerces
amolecidos pelo tempo
gravados em calcário
medo
uma vida
apenas uma
nenhuma mais
à deriva
incorrigível realidade
lábios separados
palavras que nunca se dirão
noite
sem fim
tempo infinito
23 de maio de 2018
Momentos antes de adormecer
The Thrill is Gone, Crossroads Guitar Festival, Chicago, 2010
Eric Clapton, Robert Cray, Jimmie Vaughan, Johnny Lang, Joe Bonamassa, Sheryl Crow e B.B. King (entre outros)
Há músicas que são eternas. Há músicos que são eternos. Há momentos que perduram para sempre e a história da música está cheia desses momentos. Felizmente. Qualquer dos nomes acima referidos já nos deu um momento desses, de forma improvisada, inesperada, inspirada. O momento retratado no vídeo é apenas um desses momentos, a diferença é que em vez de um interveniente, nessa noite incrível, em Chicago, todos contribuíram para o resultado final, que espelha como gente sobredotada também se diverte, se emociona e sabe saborear um instante em que apenas se toca (muito) boa música. Foi em 2010, no Toyota Center.
Sobre o Crossroads Festival de 2010 (que Eric Clapton organizou para apoiar o Crossroads Center, um centro para o tratamento da toxicodependência que o próprio Clapton fundou em Antígua), escreveu Jon Parels, do New York Times: "while guitar heroes may be scarcer now, the guitar endures". What else?
Sobe em espiral o fumo
de um cigarro esquecido
no cinzeirode um cigarro esquecido
formas azuladas
ondulando
uma mulher
braços no ar
uma dansa
hipnotizando
o ventre
Desvio
por um instante
os olhos
- os meus dos seus -
da silhueta
que se eleva
difusamente no ar
embalada
silenciosa
por notas vagas
de saudade
Sem naufrágio
desperto por instantes
- onde estás, alma minha? -
olho em redor
a transpirar
sem delirar
sem desejo nem suspiros
somente
num estado puro
[tv off]
22 de abril de 2018
Music
Gustav Holst, The Planets, Op. 32
Poucas obras terão merecido tanta repulsa do seu criador quanto a gerada por "The Planets" a Gustav Holst. Passe o exagero, "The Planets" é uma obra composta sem se destinar a qualquer programa específico e, ao contrário do que se possa supor, não tem qualquer conexão com a mitologia romana para além da coincidência com os nomes dos planetas. Não tem, por isso, nada que ver com a astronomia, mas sim com a astrologia e os horóscopos. Diz-se que a peça nasceu um pouco ao acaso e foi sendo composta sem grandes balizas, por Holst entre 1914 e 1916, embora a estreia apenas tenha ocorrido em 1920. Nas palavras do próprio:
"were suggested by the astrological significance of the planets. There is no programme music in them, neither have they any connection with the deities of classical mythology bearing the same names. If any guide to the music is required, the subtitle to each piece will be found sufficient, especially if it be used in a broad sense. For instance, Jupiter brings jollity in the ordinary sense, and also the more ceremonial type of rejoicing associated with religions or national festivities. Saturn brings not only physical decay, but also a vision of fulfillment. Mercury is the symbol of the mind."
Cada um dos movimentos representa um poema (a obra é composta por sete poemas tonais) alusivo a cada planeta do sistema solar (não existe nenhum movimento para a Terra nem para Plutão, que à data ainda não havia sido descoberto). A convulsão dos movimentos planetários em torno do Sol gera um estado de espírito diferente que se liga intimamente à simbologia do zodíaco, quanto aos nomes que coincidem com os dos planetas do sistema solar. A peça é contemporâna com o impressionismo musical do início do Séc XX e constiuti uma obra maior pela extensa palete de tonalidades e estados de espírito que encerra na sua representação. Há quem diga que se trata de uma alegoria ao tumulto de própria vida e do ser que cada um traz fechado dentro de si. Interpretações à parte, em termos musicais é uma peça muito variada e rica.
that lights the night
the kiss of springtime
a flame
that never dies
the dearest thing
that cannot be denied
you make me walk
as if I am dancing
the diffuse matter
that makes me sleep
as if I am dreaming
or freaking
or simply being amnesic
11 de abril de 2018
9 de abril de 2018
A colloquial reluctance to assimilate a soliloquy
Edward Elgar, mov. 1 concerto para violoncelo en Mi menor op. 85
(maestro: Daniel Barenboim, Londres, 1967)
(maestro: Daniel Barenboim, Londres, 1967)
Did I dream? was I ever you
Or was it my inefficient imagination
my cynical optimism
my baroque contradiction
my own contingency
[whatever]
imagining that you once were me?
Why bother to know
such obnoxious eloquence
and fluent speech
crambled with cherries
and strawberries
when all such imperfect
gentrified formulation
and verbal masturbation
can merely achieve
an ambiguous festival of silence?
I see white words
floating on dark screens
poetry drown in modernity
and sarcasm
words full of hormones
men and women
all alone
with a single purpose
to marry
Tom or Jerry
Where is veracity?
or the capacity
to explain reality
Is it methodology?
or mythology?
a simple theory
perhaps a cursed soliloquy
to describe this pile of debris
with no cerimony
or drudgery
Love will always be a mistery
22 de março de 2018
Sincere pollution
Diffuse matter
a circumstance
a surprise
I close my eyes
before intubation
stabilization
circulation
ressurrection
silence
a gentle whisper
extinguished warmth
forgotten lips
Fixation
I'm dancing
and loving
to melt a storm
but now
I've found
it is too late
so late
this afternoon
the thrill has gone
love is old
nights are cold
the moon is gone
so soon
gone
In vain
I pretend
this is the end
no seaside
no shore
no poems
an empty space
between the stars
crack
the thrill is gone
a circumstance
a surprise
I close my eyes
before intubation
stabilization
circulation
ressurrection
silence
a gentle whisper
extinguished warmth
forgotten lips
Fixation
I'm dancing
and loving
to melt a storm
but now
I've found
it is too late
so late
this afternoon
the thrill has gone
love is old
nights are cold
the moon is gone
so soon
gone
In vain
I pretend
this is the end
no seaside
no shore
no poems
an empty space
between the stars
crack
the thrill is gone
(revisiting Patricia Barber)
5 de março de 2018
instante na cidade
havia um ruído
de nada na terra
interrompido por
um tremor de passos
irrompendo
na paisagem verdejante
como nas páginas de um romance
Crianças
surpreendidas pela chuva
respirando alegria
Gotas de riso espalhadas num instante
fugaz
calando o Silêncio da cidade
onde sonhos semeiam
semanas povoadas de torpor humano
semanas povoadas de torpor humano
soberano
sopra humildemente
o Vento do momento
21 de fevereiro de 2018
rain
Love in a raindrop
After the storm
a heart
Sadly echoing
on a guitar
I see your eyes
I see emptiness
After the storm
a heart
Sadly echoing
on a guitar
I see your eyes
I see emptiness
3 de fevereiro de 2018
Espuma do tempo
Que espinhos semeia o amor
no caminho sobressaltado da vida
vergado pelo uivo do vento
e o rasgar das ondas no mar
O espírito sopra o vento
do destino, livre,
puro, como a espuma
branca na areia
O amor, a virtude sem pecado
sem crime ou castigo
vive ao lado
em silêncio.
Procuramos em olhos alheios
os beijos calados por que anseiam os lábios
as mãos invísiveis à procura de um corpo
inflamado pelo alento do amor
são assim as Almas gémeas
perdidas no silêncio
distantes no tempo
no caminho sobressaltado da vida
vergado pelo uivo do vento
e o rasgar das ondas no mar
O espírito sopra o vento
do destino, livre,
puro, como a espuma
branca na areia
O amor, a virtude sem pecado
sem crime ou castigo
vive ao lado
em silêncio.
Procuramos em olhos alheios
os beijos calados por que anseiam os lábios
as mãos invísiveis à procura de um corpo
inflamado pelo alento do amor
são assim as Almas gémeas
perdidas no silêncio
distantes no tempo
29 de janeiro de 2018
O cavalo de Heitor (ou a arte de amar segundo Ovídio e Apuleio)
Étienne-Maurice Falconet (1716-91), Cupido
"não deixes para trás a tua parceira, desfraldando mais largas velas,
nem seja mais rápido o ritmo dela que o teu;
avançai para a meta ao mesmo tempo; então, será pleno o prazer,
quando, par a par, jazerem, vencidos, a mulher e o homem.
Esta é a prática que deves cultivar, sempre que te seja dado desfrutar livremente
do ócio, e o medo te não forçar a aventuras furtivas."
Ovídio, Arte de Amar, versos 703 e seguintes do Livro II
24 de janeiro de 2018
Ocasos da memória
11 de janeiro de 2018
Balada para M
Nasce o dia
brota um sorriso
escarlate
acariciado pela luz matinal
dançam perfumes e estrelas
Desfilam despojos de candura
tremores num corpo breve
nada é dissabor nú
brota um sorriso
escarlate
acariciado pela luz matinal
dançam perfumes e estrelas
Desfilam despojos de candura
tremores num corpo breve
nada é dissabor nú
mundo aromatizado
por perfume da cerejeira
por perfume da cerejeira
9 de janeiro de 2018
Waters
Testing waters
Is it too late?
And what thoughts lie ahead?
My head is spinning
Around
a new beginning
Is this the way
Or is it not real
The sky is twisted
My head is spinning
around
My head is spinning
around
a new beginning
a
new
beginning
8 de janeiro de 2018
Time flies
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