26 de setembro de 2008

Quando ouviu a respiração pesada de Richard, Consuelo puxou lentamente pela ponta do lençol e destapou-se, procurando na obscuridade do chão a roupa em desalinho. Certificou-se que o homem a seu lado dormia e contemplou-lhe as feições angulosas. O luar penetrava a custo pelas frestas das cortinas. Magneticamente, coseu-se com as sombras e com passos meticulosos enfiou-se na banheira, fitando longamente a água a esgotar-se pelo ralo escancarado. depois de percorrer o seu corpo. Quando o calor do vapor lhe penetrou na pele, Consuelo enrolou-se no roupão branco, que retirou de uma prateleira por cima de um armário baixo, desdobrou-o em silêncio, envolvendo-se nele, deslizando em seguida para a varanda revestida em lâminas macias de madeira. Procurou uma chaise longue inundada pelo luar e alcançou uma manta enrolada num cesto de vime. Deitou-se e cobriu-se com a manta em lã macia, enrolando-se em si própria, como o fazia em criança, quando ouvia os adultos a discutir na sala, debaixo dos lençóis. Os gritos esta noite eram contudo seus, somente o luar era estridente, mas Consuelo sentiu os tímpanos a latejar.

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