19 de setembro de 2008

Ludwig van Beethoven, V Sinfonia, I mov.

Arturo Toscanini

As quatro notas mais conhecidas de abertura de uma sinfonia, na história da música ocidental. O que faz nelas a diferença? Porque motivo a "sinfonia do meio" é a mais emblemática das que preenchem a obra de Beethoven? O que descobriu o génio nesta simples expressão inicial da sua arte, que nos deixa presos ao resto da obra, de cuja audição não conseguimos abdicar? Que profundidade existe na obra do mestre em geral e nesta em particular?

Quatro notas apenas. As três primeiras (um Sol) muito curtas e repetidas, como um apelativo bater numa porta, seguidas de um longo Mi que preparam o primeiro movimento desta sinfonia clássica. Quando compôs a Quinta Sinfonia (entre 1807 e 1808), Beethoven estava no auge do seu trabalho, que se situará entre 1802 e 1812 e dir-se-ia que estava em fase de transição do período clássico barroco para o romântico, distintos entre si na história da música. Um período de grande euforia, no qual o tamanho das orquestras crescia permitindo inovadoras composições musicais onde cada um procurava suplantar-se. Beethoven não era excepção e nesta composição aparecem por isso misturadas flautas, oboés, clarinetes, trompetes, instrumentos de corda, tubas e tímpanos.

Nesta sinfonia, como em tantos trabalhos do período clássico, surgem-nos quatro movimentos, o primeiro dos quais sob a forma de sonata em allegro con brio e evidenciando grande contraste. Sucedem-se os forte e fortissimo, contrastando com os piano e pianissimo ao mesmo tempo que o tom se altera nas diversas frases musicais, variando entre Dó menor, Fá menor, Dó maior e finalmente regressar na conclusão a Dó menor novamente.

Aparentemente o primeiro movimento semeia a confusão e o caos, transmite desde logo grande pessimismo, imagem que se mantém ao longo de todo o trabalho, com breve apontamentos líricos, nem sempre compreendidos em Beethoven. Todavia, como é comum, o quarto movimento termina em apoteose, com a orquestra em plenitude. Todo o trabalho demonstra o esforço de alguém que tem uma tarefa difícil pela frente, tem os seus altos e baixos, mas por fim consegue alcarçar e superar-se. É uma ideia comum, mas neste caso demonstra constantes alterações de humor, também característicos em Beethoven e nem sempre compreendidos no seu tempo. Hoje, mercê da agitação da vida contemporânea é corrente registar-se isso, mas à época não o seria, nem havia esse tipo de preocupações com diferentes manifestações da personalidade. Há por isso quem diga que Beethoven não compôs para o seu tempo, quando se propôs representar numa orquestra o retrato interior de alguém, de forma intimista, se é que de intimismo se pode falar num trabalho que pode ter quarenta, cinquenta ou mesmo sessenta músicos a tocar em simultâneo.

Há quem diga que a Quinta Sinfonia é a melhor composição de Beethoven. De certa forma foi suplantada pelo Nona e última, com a qual ombreou sempre. Por esta ter sido a última composição, por ter sido composta numa altura em que o compositor já estava surdo, porventura por ser um hino à alegria, que transmite um maior optimismo que os seus anteriores trabalhos e em particular em relação ao conteúdo da Quinta, porventura. Seja como for, felizmente existem as duas.

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