1 de junho de 2008

Pesado, demasiado pesado. Demasiado amor, demasiado complicado, demasiado elevado, como um arranha-céus, demasiado fecundo, demasiado doloroso por isso. Muito mais do que estava preparada para dar, muito menos do que lhe convinha e a sua afectividade exigia como contrapartida. Se se quiser, uma esperança demasiado alta, como uma aposta. Tu no tienes corazón, Javier Falcón. As palavras ecoavam na cabeça de Javier enquanto os seus olhos contemplavam o fundo vazio do seu copo de tinto de verano con La Casera blanca, conformado com o facto de ter de pedir mais um para de um trago se apaziguar, a si ou à sua sede. Xavier assentiu com a cabeça à confissão do amigo, porque a pressentia iminente. Pediu discretamente mais dois tintos de verano para enfrentar a canícula de Junho em Sevilha. Em breve começariam as férias dos sevilhanos e a cidade ficaria quase deserta, mas antes ainda havia a romería d' El Rocío a vencer antes da silly season ser declarada aberta. Quando regressou, o empregado encharcado em suor largou apressadamente as bebidas na mesa que ocupavam e afastou-se sem abrandar o passo, consciente que da sua eficiência e rapidez dependia a sobrevivência dos demais comensais que enchiam a sala, à beira de um golpe de calor. A temperatura das duas da tarde era insuportável, o asfalto derretia nas bermas, as pastilhas elásticas que pejavam as artérias da cidade formavam um manto espesso sobre os passeios que desesperava quem as pisava. Era em final de Maio e o termómetro do painel publicitário da Telefonica na Plaza de Espanã ultrapassara os quarenta graus pouco depois das onze das manhã. Aproximava-se o verão mais quente dos últimos anos e nem Javier nem Xavier sonhavam com isso.

6 comentários:

Anónimo disse...

Acreditas que tenho verdadeira paixão por isto? Outra das minhas taras. Espanha, flamenco, espanhol, a alma, a intensidade...

Sempre quis amar em espanha. Ainda não consegui. Os homens são muito tolos. Muitos continuam a achar que podem comprar amor. É muito doloroso estar com a pessoa errada onde sempre quiseste estar com a pessoa certa.

Uma vez até fui perseguida pela polícia e multada por excesso de velocidade à saída de sevilha de caminho a portugal. Já não aguentava mais estar a estragar os meus sonhos com a pessoa errada.

Anónimo disse...

Lucy, como diz o poeta, é tão curta a memória e tão longo o esquecimento.

A humildade conferida por muitas lágrimas rebeldes que autónomas me jorram dos olhos, anos longe das suas fontes de origem, permitam-me dizer, nunca se esquece, e jamais te consideres curada, de qualquer adicção ou amor. Claro que falmos do amor, daquele que nos expõe o sangue ao sol, que nos deixa sem pele, em carne viva.

Curioso como partilhamos essa paixão. Confesso aqui, pedindo que não contem, que tenho toda a parafernália do el Rocio: Falda, camiseta, chaqueta, cinturón, pendientes, chapéu, mantilha, pendientes e peiñeta, para além de umas maravilhosas botas rocieras. Sei os Cantares de Huelva, pirosissímos, el camiño y olé. Hasta la faena me encanta.

Já amei loucamente em Sevilha, em Maiorca, em Barcelona, em Mérida, em Salamanca e sempre distinta e bellissíma es la cosa. Quando nada tenho vou a Ayamonte ao fim da tarde de sábado e como puntilhitas nas barricas e linguerones no El guerrero. Quando me stico vou ao choco frito a Bollullos del Condado. Parece muito?

Não!!! Tenho um sonho: passar uma noite de amor no Hotel hiper contemporâneo e arrojado na localidade El Ciego. Para lá levarei as minhas braguitas que rezam assim: "el amor es ciego".

Lucy, vais encontrar a pessoa certa para amar "ciegamente" como tu e España se merecem.

Lê em espanhol o Peres Reverte- La Reina del Sur. Fascinante. T

Anónimo disse...

Isto é lindo! No Blogue do E. brilham também as comentadoras de serviço.
Andam, andam e ainda vão é para Espanha as duas.
L.Vira

Anónimo disse...

Stop the press!

T, vamos com calma analisar o que acabou de acontecer aqui.

1. Temos fãs. OK, já estou a exagerar. Temos uma fã. Mas uma pode significar o princípio de muitos.

2. Essa fã, em vez de comentar o blog, comentou os nossos comentários (e exactamente por isso é nossa fã e não fã do blog).

3. Já temos designação oficial: "Comentadoras de serviço" (sentes-te tão orgulhosa quanto eu?). E ainda por cima "brilham". Meu deus... não estou habituada a tanta atenção. Não sei como vou lidar com isto.

Acho que dificilmente vou conseguir adormecer hoje. O entusiasmo é overwhelming.

Mas acho que o mais surpreendente foi a fantástica conclusão (absolutamente imprevisível): "Andam, andam e ainda vão é para Espanha as duas" :)

O que achas da ideia? Não me parece má. Acho que nos divertiríamos imenso na Isla Mágica. E à noite podíamos procurar um sítio onde bailar o flameco. Sou muito divertida. Se gostares do género não te aborreces de certeza. E quicá não encontramos um espanhol para cada uma :)

(...)

Vamos lá para conversas sérias.

É muito bonito o que escreveste. Quem me dera ter tantas, e tão boas, recordações. Só não sinto inveja porque é feio (e acho que não sou invejosa), mas fico com mais vontade ainda de um dia recordar como tu.

Nunca amei. Já gostei muito de alguém mas não chegou a ser amor. E curiosamente não foi do meu ex oficial (esse deixei-o há 9 anos atrás). Este "gostar muito" começou em 2000 e acabou em 2003 (há 5 anos atrás - a última vez que chorei). E foi o mais perto que estive do amor. Ainda ninguém conseguiu corresponder totalmente às minhas expectativas. E sou sempre eu quem acaba. E, believe it or not, não guardo recordações de ninguém. Quando viro as costas jamais olho para trás. Acho que precisamente por não terem correspondido às minhas expectativas. Não deixei nada para trás que valha a pena recordar. Mas quero ter. Por isso olho para a frente :)

Um dia contas-me todas essas histórias. Adoro histórias de amor :)

Vou dormir. Ou tentar. Ainda estou um bocado abalada.

Anónimo disse...

Claro que conto, Lucy. Talvez me aches terrivelmente chata, mas gosto mais de ser baça, perdão chata do que brilhante.

A Isla Mágica era perfeita, levamos as nossas feras que têm a mesma idade, e rimos até entontecer.

O difícil é sempre esta poção mágica do tempo, que não estica.

Anuncio solenemente que me ausentarei de comentadora de serviço de dia 6 a 10, porque vou a chás de menta lá para o sul, para a cidade vermelha de Marraquexe. Prometo trazer memórias de riads, souks, medinas, jalabas da cidade imperial, vermelha. Mas voltarei, volto sempre. T

Anónimo disse...

Os fins de semana costumam ser calmos, por isso na realidade só vais faltar 2 dias. Vai à vontade e diverte-te muito. Tira muitas fotos.

Tens muita sorte. Tiveste um rapaz e uma rapariga. Aí está outra coisa que eu gostava muito - uma menina. No meu primeiro filho queria uma Bárbara, tive um Lucas. No meu segundo filho queria uma Beatriz, tive um Igor. Já acho cada vez mais difícil algum dia ter uma filha. Faço 34 no próximo mês e ainda nem um pai encontrei. Agora vais dizer-me que não é tarde e pode acontecer quando eu menos esperar. Eu já sei (mas diz à mesma... é sempre bom ouvir).