6 de junho de 2011

"A Península"

No You Tube têm-se multiplicado os visionamentos do vídeo abaixo. Aparentemente, trata-se de uma jornalista do canal Al Jazeera ("A Península" em árabe), que não se coibiu de manifestar a sua posição de forma assaz corajosa, em directo. O canal sediado em Doha tem representado, por estes dias, a par do "Facebook", um eco das vozes de libertação que se vêm multiplicando no Médio Oriente desde a "Revolução de Jasmim", que resultou na deposição de Ben Ali.

Desde que foi fundado, em 1995, a Al Jazeera tem crescido exponencialmente, suscitando ódios nos países muçulmanos e também no ocidente (conta-se que em 2005 Bush e Blair terão conspirado para bombardear o "bunker" onde está situada a sua sede, no Qatar, depois de terem sido exibidas imagens de soldados americanos e britânicos mortos, feridos e feitos prisioneiros no Afeganistão e no Iraque).


Não cabem agora aqui os versos de Emily Dickinson, na sua Carta ao Mundo e Outros Poemas, mas vale a pena visitá-los ainda que brevemente, como uma alegoria que de certa forma as palavras da pivô também são:

A Batalha travada entre a Alma
E nenhum Homem - é
De entre todas as Batalhas que permanecem
De longe a Maior
[...]
Nem a História - a regista-
Como Legiões de uma Noite
Que o Amanhecer dispensa - estas resistem -
Imperam - e exterminam.

São ventos de mudança, estes que se anunciam. Provavelmente difíceis, a Oriente como a Ocidente. E é ao escutar as palavras do vídeo que espanta a comparação com os acampados do Rossio, ou da Puerta del Sol. Não há ali nada, que possa ser contraposto às multidões do Cairo, de Tunis, de Tripoli, de Islamabad ou de Manama, rigorosamente nada. É ao ouvirmos a pivô da Al Jazeera e ao olharmos para o número da abstenção nas eleições de ontem, que percebemos que na nossa reconfortante península, o conceito de democracia passou ao lado de quem optou por acampar, no Rossio, na praia, onde quer que fosse, em vez de ir votar. Não tem nada de mais, mas só por causa disso, três em cada dez portugueses foram suficientes para constituir a maioria que a partir de hoje governará os destinos de Portugal.

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