Separaram-se ao fim da tarde. Xavier acompanhou Clara até ao estacionamento de taxis na praça em frente ao museu, despediram-se e ele indicou o destino ao motorista. Embarcou no taxi seguinte, seguindo na direcção oposta ao longo do Quai d' Orsay. Na Ponte Alexandre III pediu ao motorista para virar à direita e seguir pela Avenida Winston Churchill, até aos Campos Elísios. Aí, pediu desculpa e deteve a corrida, dando uma generosa compensação ao motorista. O ar fresco do anoitecer embalava a copa das árvores e o maciço e frenético tráfico da tarde dava lugar ao lento deambular dos automóveis pela cidade, detendo-se pacientemente em cada semáforo. Xavier apeou-se e estacou durante instantes vendo o taxi a desaparecer na avenida e depois principiou a caminhar pelo lado direito em direcção à Concórdia, observando distraidamente os vultos nas esplanadas e um ou outro rosto iluminado pelo acender de um cigarro. Paris vestia-se agora para os noctívagos e para os românticos em busca de atmosfera junto ao Sena. Ajeitou a gola da camisa e apressou o passo à vista do obelisco. Um cego segurando um cão pela trela despertou a sua atenção. Ambos atravessaram a rua como um par de bailarinos perfeitamente sincronizados ao primeiro frémito do semáforo. Junto ao Louvre, Xavier consultou o relógio do telefone e meteu pela Rua de Richelieu, embrenhando-se em Montmartre. Deteve-se junto a um pequeno edifício de dois andares, com fraca iluminaçao. Num pequeno letreiro pendurado junto da entrada no rés-do-chão lia-se "Livres du Bout du Monde". Bateu na porta e entrou depois de cumprimentar o velho Louis.
[...]
Enquanto procurava entre as prateleiras de livros velhos, o telefone tocou. Era o seu editor. Não eram boas notícias, a última tiragem demorava a escoar e provavelmente iriam cancelar o contrato. Xavier desligou o telefone e continuou a sua tarefa com um encolher de ombros.