Daqui parte um caminho. Por enquanto de areia fina, como poeira do deserto, soprada pelo vento dos primeiros frios outonais. Segue junto ao rio, por toda a parte, perde-se nos campos verdejantes, volatiliza-se nos arrozais, entre o vôo das garças, lá, onde o rio já não é navegável nem é rio. Continua para além dos laranjais, por entre as árvores em flor, pelo mundo fora.
A tarde muda, numa morosa intensidade, como se fosse o espelho da minha alma. Quietude. Uma ave plana. Palpitante, no meu íntimo, na minha infinita tranquilidade. O silêncio existe. Nos meus pensamentos, só a lua tarda em nascer. Mas são apenas. Palavras. Palavras. Palavras. Não, não é tudo o que resta. Encontro nisto tudo uma beleza, um sentido. Nenhum orgulho. Orgulho. Orgulho. Não estou agitado, não estou ansioso. Pelo dia de amanhã. És tu quem me quer, és tu quem me atravessa, tu. Só tu. Adulta, agora adulta. És tu que me penetras com o teu olhar, me colocas as mãos nos ombros e me lês um poema de AdaNegri. Não sinto agora peso, nem vertigem, nem loucura. Adoro a vida. Nada perdi, nem um ruído de corações, nem uma luz, nem um desejo. Dispo-te lentamente, a cada beijo.
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