13 de dezembro de 2007

Palavras

No meu caso, as palavras sempre foram uma luta pela liberdade. Contra a força da gravidade, o peso, tudo aquilo que me puxava para baixo. Faço. Por isso questão: que raramente toquem a realidade, ou se quiserem: o chão. Por isso as deixo flutuar, suspensas no ar, mesmo quando as uso seguras por elásticos de forma a que tenham um espaço limitado de criativa liberdade individual em relação ao texto a que as prendo. Odeio ser normativo no uso das palavras, desde a sua génese no meu interior mais profundo. Por vezes, "sou como os outros", noutra vezes, "apenas eu", opostos que se enfrentam de forma violenta, com variações de humor. Por vezes, nuvens. As palavras, mas também lâminas de gume afiado. As palavras que uso são substituíveis. Quase sempre podem ser substituídas. Não raras vezes regresso a um texto e excluo palavras que me pareceram a um tempo: perfeitas. Perfeitas. Que perfeição há numa palavra que nos parece pesada a um dado tempo? E que direito tenho de achar pesada uma palavra que escolhi empregar? de a colher e simplesmente degredar ou banir? As palavras: ondas perdidas, folhas de árvores, flores recém-colhidas, secas. Nunca sabemos. Onde nascem. Onde vivem. Onde morrem. E morrem. Morrem, sim. As palavras são entes da natureza e daí vem a sua perigosa perversão. Por isso vivo agora longe das palavras, num mundo que excede os limites do pessoal. Do geográfico. Da ficção putativa. De irresistível liberdade. Sem fantasmas. Sem receios. Sem dores não partilhadas. Com plena maturidade.

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