29 de janeiro de 2009

Água de Janeiro

Climas, de Nuri Bilge Ceylan

Em Janeiro
um lírio à beira do caminho
serpenteante entre as falésias
desperta-me os sentidos
Ouço bem uma voz
a tua voz ecoando
errando pelo tempo
dividida pela neblina
que cobre os canaviais
baloiçando
Triste
é assim que a escuto
ainda hoje
por vezes quase-muda
nas copas das árvores
esqueléticas
uma folha tombando aliquando
a anunciar a morte perfeita
de outro dia
Ao entardecer
por vezes
recordo os olhos que deitavas para o largo
onde a espuma das vagas se forma
antes de adormecer na areia húmida da maré vasa
As tuas palavras
costumavam formar-se nesses instantes
brotando do silêncio dos teus lábios
eram a minha alma nesses dias
em que o teu rosto se iluminava com a chegada da lua
Íamos
embalados pelas vozes do vento vagabundo
cujas sílabas eram o sentimento puro
e o calor
que no rigor da estação
tornavam o Inverno
um lugar distante
e a chuva que caía
água fora do tempo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gosto...muito :-)

Adriano Narciso disse...

Muito bom!

Anónimo disse...

Não gosto de repetir, mas não há nada mais a dizer do que gosto muito, e é muitíssimo bom.

Quanto tempo...T