Estes passos
[os teus]
encontro-os
[nos meus]
Outros passos
Outros rastos
passados
não se ignoram
São destinos comuns
Não se curvam
Não se vêem
não se ignoram
Caminham
Assim
de encontro
a um destino
comum
ao encontro
de ti
13 de agosto de 2019
1 de março de 2019
O teu nome
O teu nome no mar profundo
todas as noites intacto
o rosto o corpo
refletidos no azul da água
acima das ondas sem tempo
Em silêncio
ouço o rumor do vento
e reaprendo os dias
enquanto derramo as horas
pelas frestas iluminadas das janelas
As mãos em concha
amparam palavras
relâmpagos sem fim da alma
que se desfaz em gotas de água
e rega os lírios
O teu nome no mar profundo
Aqui... o escrevo
todas as noites intacto
o rosto o corpo
refletidos no azul da água
acima das ondas sem tempo
Em silêncio
ouço o rumor do vento
e reaprendo os dias
enquanto derramo as horas
pelas frestas iluminadas das janelas
As mãos em concha
amparam palavras
relâmpagos sem fim da alma
que se desfaz em gotas de água
e rega os lírios
O teu nome no mar profundo
Aqui... o escrevo
4 de fevereiro de 2019
But we need the books that affect us like a disaster, that grieve us deeply, like the death of someone we loved more than ourselves, like being banished into forests far from everyone, like a suicide. A book must be the axe for the frozen sea inside us. That is my belief.
Franz Kafka, letter to Oskar Pollack, 1904
18 de janeiro de 2019
Nostalgia
Em outubro de 2018 a Deutsche Grammophon publicou o álbum Destination Rachmaninov * Departure, interpretado por Daniil Trifonov em conjunto com a Orquestra de Filadélfia. O trabalho contém os concertos para Piano e Orquestra nº2 e nº 4 do compositor russo e também a partitura nº 3 para violino de Johann Sebastian Bach. A foto de capa do álbum apresenta um Trifonov nostálgico, no interior de uma carruagem de comboio de época, porque o primeiro andamento do Concerto para Piano e Orquestra nº4 é, segundo uma entrevista de Trifonov, "como uma locomotiva a andar pelos carris".
João Santos, no Expresso de 5 de janeiro, desenhou um círculo perfeito com a crónica que dedicou ao lançamento do álbum, pois escreveu um artigo sublime, pleno de sensibilidade e bom gosto, onde combina de forma requintada o poema "Ludwig W. em 1951" de Manuel António Pina (dedicado a Ludwig Wittgenstein) com um diálogo "excruciante" extraído da peça "Natureza Morta" de Noël Coward ("Still Life" no original de 1936), posteriormente adaptada ao cinema por David Lean com o título original "Brief Encounter". No filme, o encontro/desencontro de Alec e Laura decorre sob a pauta sonora do Concerto para Piano nº2 de Rachmaninov, que também faz parte do álbum de que falamos. Este é imperdível, mas o artigo de Santos é também uma pequena sinfonia que não podemos deixar de ler e por isso a reproduzimos ao lado.
15 de janeiro de 2019
Uma cor incondicional
Solar. (In)condicional
Dói
por exemplo
Uma centelha
um feixe de luz
poros abertos
A respiração
dói
Uma ferida aberta
fendas luminosas
dói
as sílabas
as palavras
o silêncio
dói
a ausência
o tempo
a cegueira
as constelações
a banalidade do mogno
dói
a linguagem extenuante da verdade própria
uma visão fulminante
o sentido de tudo
a infusão da impossibilidade
Quando.
11 de janeiro de 2019
Alento
Nada a não ser o fogo
A areia húmida debaixo dos meus pés
A noite a cair sobre os meus ombros
O zumbido dos insetos
O brilho das estrelas
O apagar do sol
O adeus
O repouso
20 de novembro de 2018
Último poema
Hoje dormirei
no sono se perde uma memória
transfigurada, em rodopio
em corropio vazio de intimidade
batida por golpes de silêncio
olhares desviados transviados
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras secretas, passadas
Hoje dormirei
profundamente
sem palavras, sem promessas
ou pétalas espalhadas pelo vento
sem pingo de sangue nem seiva
flores frias a secarem devagar
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras límpidas, amargas
Hoje dormirei
sem melancolia
ou a sofreguidão da primavera
porque se apagaram as luzes
porque se calaram as vozes
porque se devorou a alegria
das pequenas coisas
dos pequenos beijos
palavras vãs, imortais
Hoje estou sereno
ao leme das palavras
completamente vivo
voz emudecida
cantando baixinho
palavras secretas
palavas límpidas
palavras vãs.
no sono se perde uma memória
transfigurada, em rodopio
em corropio vazio de intimidade
batida por golpes de silêncio
olhares desviados transviados
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras secretas, passadas
Hoje dormirei
profundamente
sem palavras, sem promessas
ou pétalas espalhadas pelo vento
sem pingo de sangue nem seiva
flores frias a secarem devagar
vozes emudecidas
cantando baixinho
palavras límpidas, amargas
Hoje dormirei
sem melancolia
ou a sofreguidão da primavera
porque se apagaram as luzes
porque se calaram as vozes
porque se devorou a alegria
das pequenas coisas
dos pequenos beijos
palavras vãs, imortais
Hoje estou sereno
ao leme das palavras
completamente vivo
voz emudecida
cantando baixinho
palavras secretas
palavas límpidas
palavras vãs.
15 de novembro de 2018
Quietly
Sigur Rós, Svo Hljòtt (Takk, 2005)
Avisto a causa do meu tormento
o céu a fechar-se sobre o contentamento
Aos poucos porei os olhos
na minha alma subjugada
donde pende o meu desejo
De dia em dia, de ano a ano
nada, engano
amor vão, onde ponho o pensamento
ao sabor do vento
do descontentamento.
Quanto mais me chego menos vejo
a cada momento
amor tirano, frágil
abandonado
e sem fundamento
sem horas, sem limites
13 de novembro de 2018
O pós-pessimismo
A manhã nunca pede mais que uns versos
Depois da noite morrer longe
medindo o pulso à eternidade
na sombra da chama de uma vela
o dia é um pseudónimo
para o brilho do Sol que nos inebria
de luz para enganar as sombras
o rasto do escuro
Finjo crer, na madrugada,
que havemos de ir a Veneza
ou a Viena empolgados por projetos
que persistem perenes
Atiro a chave do pessimismo pela janela
Quem me dera um bulldozer
para arrasar esta visão
e asfixiar satisfatoriamente
o presente que não existe.
- Parvo!
[chama-me o teu sorriso que apaga todas as sombras]
Depois da noite morrer longe
medindo o pulso à eternidade
na sombra da chama de uma vela
o dia é um pseudónimo
para o brilho do Sol que nos inebria
de luz para enganar as sombras
o rasto do escuro
Finjo crer, na madrugada,
que havemos de ir a Veneza
ou a Viena empolgados por projetos
que persistem perenes
Atiro a chave do pessimismo pela janela
Quem me dera um bulldozer
para arrasar esta visão
e asfixiar satisfatoriamente
o presente que não existe.
- Parvo!
[chama-me o teu sorriso que apaga todas as sombras]
2 de novembro de 2018
Uma nesga de rio
O dia acaba
com uma nesga de sol
filtrada por um vidro de janela
A pouca luz
enrola-se na noite
que abraça a terra
e o dia expira no eco longínquo
de um lento pulsar
Para a minha alma
apenas queria uma noite assim
encoberta pela névoa
flutuando sobre o rio
uma barcaça de cordas e madeiras
sem barqueiro
singrando rio abaixo
pela eternidade
Olho os vultos na margem
estátuas em cada lugar
com uma nesga de sol
filtrada por um vidro de janela
A pouca luz
enrola-se na noite
que abraça a terra
e o dia expira no eco longínquo
de um lento pulsar
Para a minha alma
apenas queria uma noite assim
encoberta pela névoa
flutuando sobre o rio
uma barcaça de cordas e madeiras
sem barqueiro
singrando rio abaixo
pela eternidade
Olho os vultos na margem
estátuas em cada lugar
Testemunhas imóveis
da história destas águas
Aguas
correndo, percorrendo
correndo, percorrendo
Vidas sem fim
vielas
onde se cumpriu
o que se cumpriu
Na alvorada,
o Sol brilha
beija a fonte, a erva fresca
o orvalho transparente adormece
um sorriso em murmúrio
sobe-me à cabeça
eu próprio
Adormeço
vielas
onde se cumpriu
o que se cumpriu
Na alvorada,
o Sol brilha
beija a fonte, a erva fresca
o orvalho transparente adormece
um sorriso em murmúrio
sobe-me à cabeça
eu próprio
Adormeço
29 de outubro de 2018
Aqui não há poeta porque
Um poeta
administra a tristeza
parcimoniosamente
tem a cabeça na infância
e o coração na ambulância.
administra a tristeza
parcimoniosamente
tem a cabeça na infância
e o coração na ambulância.
26 de outubro de 2018
A noite
Esta noite
flutua
tem um nome
não o da lua
ou de quem a contempla
Esta noite
é clara
sem fadiga na alma
embalada
por pedacinhos de papel
rasgados
da memória
soprados pelo vento
Esta noite
cai sobre a terra
não se vai embora
acende-me
para sempre
flutua
tem um nome
não o da lua
ou de quem a contempla
Esta noite
é clara
sem fadiga na alma
embalada
por pedacinhos de papel
rasgados
da memória
soprados pelo vento
Esta noite
cai sobre a terra
não se vai embora
acende-me
para sempre
Chuva
- Ouves?
a chuva a bater na porta
nas pedras da calçada
na escada do terraço
tudo está debaixo de água
como palavras
brotando devagar de uma nascente
do bater de asas de uma borboleta
compassadamente
para me entontecer
- Vês?
a claridade
a luminosidade dos dias
eriçando as noites
empalidecendo as horas
- como paisagens
invisíveis pintadas
rostos de sorrisos voláteis
crianças correndo mergulhadas
em sonhos de oiro
- Sentes?
a vida a desfilar
num poema contínuo
de asas estendidas
exalando a serenidade
dos dias
a chuva a bater na porta
nas pedras da calçada
na escada do terraço
tudo está debaixo de água
como palavras
brotando devagar de uma nascente
do bater de asas de uma borboleta
compassadamente
para me entontecer
- Vês?
a claridade
a luminosidade dos dias
eriçando as noites
empalidecendo as horas
- como paisagens
invisíveis pintadas
rostos de sorrisos voláteis
crianças correndo mergulhadas
em sonhos de oiro
- Sentes?
a vida a desfilar
num poema contínuo
de asas estendidas
exalando a serenidade
dos dias
22 de outubro de 2018
Aqui
Queria dizer-te onde estiveres
meu amor, que hoje fez sol
Se o teu rosto aqui estivesse
os teus olhos iluminar-se-iam
e varreriam a aridez das minhas palavras
A tua boca abrir-se-ia
como a estrela
da madrugada
refletindo o seu sorriso
na lua no rio
em segredo
as minhas mãos banham-se nas tuas águas
e acariciam a tua luz diáfana.
meu amor, que hoje fez sol
Se o teu rosto aqui estivesse
os teus olhos iluminar-se-iam
e varreriam a aridez das minhas palavras
A tua boca abrir-se-ia
como a estrela
da madrugada
refletindo o seu sorriso
na lua no rio
em segredo
as minhas mãos banham-se nas tuas águas
e acariciam a tua luz diáfana.
19 de outubro de 2018
Estados transitórios
ver no espelho
a alegria ou a tristeza
sentir
o pânico ou o lume
o calor
os lábios, os nervos
o rumor
da lenha a crepitar
o teu perfume
a convulsão das pequenas coisas
a soprar-me lentamente
para o mar
a alegria ou a tristeza
sentir
o pânico ou o lume
o calor
os lábios, os nervos
o rumor
da lenha a crepitar
o teu perfume
a convulsão das pequenas coisas
a soprar-me lentamente
para o mar
17 de outubro de 2018
Mediterrâneo
Nada
reduzido a nada
a alegria multiplicada por tudo
o mundo de pernas para o ar
o vento assobiando nas copas
raras
rios nascendo no mar
paisagens percorridas em vertigem
oceanos trespassados
por sons subliminares da alma
figuras voláteis
nómadas
flutuando em portos recônditos
esboçando sonhos
ao sol esvoaçando
um canto
[onde estás pequena emilie?]
azul
a sul
sem sul
nem norte
rebelde
O que vejo não se canta
enterra-se na areia
em silêncio
e marca-se um "x"
no mapa
como um tesouro
reduzido a nada
a alegria multiplicada por tudo
o mundo de pernas para o ar
o vento assobiando nas copas
raras
rios nascendo no mar
paisagens percorridas em vertigem
oceanos trespassados
por sons subliminares da alma
figuras voláteis
nómadas
flutuando em portos recônditos
esboçando sonhos
ao sol esvoaçando
um canto
[onde estás pequena emilie?]
azul
a sul
sem sul
nem norte
rebelde
O que vejo não se canta
enterra-se na areia
em silêncio
e marca-se um "x"
no mapa
como um tesouro
25 de setembro de 2018
Os dias
Os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
de constelações calcárias
largas
como gárgulas
sorridentes
imortalizando
a imensidão da doçura humana
os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
como poemas contínuos
danças ambíguas
plenas de graça e beleza
imóveis
no firmamento
ópticos
sinópticos
às noites
de constelações calcárias
largas
como gárgulas
sorridentes
imortalizando
a imensidão da doçura humana
os dias sucedem-se
ópticos
sinópticos
às noites
como poemas contínuos
danças ambíguas
plenas de graça e beleza
imóveis
no firmamento
13 de setembro de 2018
23 de agosto de 2018
14 de agosto de 2018
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