4 de março de 2010

The Comedians, de Peter Glenville, 1967

(todo o filme disponível no You Tube)

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent


Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Les comédiens
Ont installé leur tréteau
Ils ont dressé leur estrade
Et tendu des calicots
Les comédiens
Ont parcouru les faubourgs
Ils ont donné la parade
A grands renforts de tambours

Devant l'église,
Une roulotte peinte en vert
Avec les chaises
D'un theâtre à ciel ouvert
Et derrière eux
Comme un cortège en folie
Ils drainent tout le pays
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Si vous voulez
Voir confondu le coquin
Dans une histoire un peu triste
Où tout s'arrange à la fin
Si vous aimez
Voir comblés les amoureux
Vous lamenter sur Baptiste
Ou rire avec les heureux

Poussez la toile
Et entrez donc vous installer
Sous les étoiles
Le rideau va se lever
Quand les trois coups
Retentiront dans la nuit
Ils vont renaître à la vie
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Les comédiens
Ont démonté leur tréteau
Ils ont ??? leur estrade
Et plié leurs calicots
Ils laisseront
Au fond du coeur de chacun
Un peu de la sérénade
Et du bonheur d'Harlequin

Demain matin
Quand le soleil va se lever
Ils seront loin
Et nous croirons avoir rêvé
Mais pour l'instant
Ils traversent dans la nuit
D'autres villages endormis
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens

Prefácio de um: conto climático ou em todo o caso nada parecido com isso, ou apenas o primeiro poema com uma nota de rodapé do autor

Era, evidentemente, de um reflexo aproximativo que se tratava, o que avistei quando baixei os olhos e me revi na superfície da água que à minha frente deslizava velozmente pelo leito do pequeno riacho. Não porque o tivesse visto assim, porque vi, mas sobretudo porque não sei se, tendo visto o tal reflexo aproximativo, este se tratava de um produto da minha imaginação, ou, pelo contrário, da água turva que o riacho levava, fruto da chuva intensa que caiu nos dias anteriores. A verdade é que, sendo embora a época das chuvas, o Instituto Meteorológico, pleno de lógica meteorológica, referiu-se àquele ano como um ano anormalmente pluvioso, e mais tarde, como um ano de chuvas anormalmente intensas, que os mais antigo sentiram como um mau presságio e que os mais novos sentiram como um corolário das alterações climáticas para que os cientistas e um ex-candidato à presidência de um dado país vinham alertando há muito, sem que os demais políticos de outros países estivessem na disposição de se empenhar em inverter o curso dos acontecimentos e em todo o caso não corressem o risco de ser penalizados nos sufrágios a que se submetiam, junto do comum cidadão, o qual estava, por um lado, mais preocupado em ser comum que em ser propriamente cidadão e por outro, nessa medida, nada preocupado em prescindir de ser inconscientemente comum para passar a ser um consciencioso cidadão. E assim, o reflexo aproximativo que vislumbrei era um reflexo do cidadão que eu próprio era, sem que esta análise tivesse em conta, nem por sombras, muito pelo contrário, a pessoa que eu era ou em que entretanto me tinha tornado.
.
hoje apetecia-me esgueirar(*)
para dentro de ti
antes do despertar da insónia
de 5 de março
.
de madrugada, acto 1 ou antes um simples acto contínuo
.
sussurro sossegadamente o teu nome
assim: xis
quase em silêncio
silêncio salgado na maré vasa
hesito
se escrevo
ou me travo de razões
?
ou antes adormeço
.
em todo o caso o mar ao longe
desperta-me
enquanto o sal se cristaliza na orla
das primeiras águas
depositadas na praia
evaporadas de emoções
como os teus lábios ressequidos
.
porque morremos assim?
.
(*) sem que tenha evidentemente a certeza que esgueirar seja a palavra certa

24 de fevereiro de 2010

22 de fevereiro de 2010

pego-lhe mão
e nos segredos que revela
morreria de aflição
se
adivinhando o que lhe vai no coração
descobrisse que para além da razão...
.
[DELETE POEM]
.
Os primeiros minutos deste post foram, por assim dizer, desastrosos. A palavra amor ocorreu-me vinte vezes. As palavras saudade, rugas e futuro, dezasseis. Por oito vezes, pelo menos, pensei em utilizar a palavra quarenta e em pelo menos dez ocasiões a palavra poema surgiu-me esvaziada de qualquer conteúdo significativo. O certo é que verso e estrofe nunca me ocorreram, nem a palavra rima. Já a palavra Timbuctu, África e Elyne Road surgiram-me um número incontável de vezes. Assim como salinas e açoteia. Para sempre surgiu uma vez apenas, quando me lembrei do final de O Amor no Tempo da Cólera, sem que me tivesse passado pela cabeça qualquer concepção ou estimativa de tempo que lhe pudesse estar associado. Estranhamente, Madeira apenas me ocorreu uma vez, sms noutra e depois, também numa única vez, Alberto Caeiro, mas seguramente a propósito de nada. E assim o poema - sendo em todo o caso discutível que se lhe possa chamar poema - finalmente surgiu, fluído e isento de qualquer racionalidade, em estado puro:
.
Ouve
a minha voz
um solilóquio monótono
venerando as virtudes da escrita
e a beleza da tua alma
na manhã (im)perfeita
o meu rosto reflectido
no orvalho matinal da estrada
a caminho de lado algum
Toca-me
Cheira-me
Os teus sentidos confundidos nos meus
as minhas mãos entrelaçadas
nas tuas
o tempo
sincronizado com o toque
das tuas impressões digitais
na minha pele húmida.
.
(continua aqui)
.
Imagem: Red Riders, Carlo Borlenghi, para Alinghi

10 de fevereiro de 2010

Júbilo?
Sim
E se um de nós estiver errado?
Que destino haverá
num poema a latejar
que lembrança
luzirá
no teu olhar?

7 de fevereiro de 2010

Edificação (II)

Fica atenta
aos vestígios de tinta
indelével
no correio
que te leva o sabor
das minhas palavras
transcritas da boca para o papel

Ignora o tom agreste
Recompõe-te
imagina-me apenas sentado
não agressivo
a escrever enquanto penso
num recanto inacessível do teu corpo
num sussurro
apagado
do teu coração

Imagina
uma janela
debruçada sobre o mar
liso, brilhante
de um azul monótono
igual a tantas histórias
e pinturas tão simples

Imagina o meu coração
a descoberto
aberto
no ponto em que secou
em que as palavras secaram
o gesto murchou
e os lábios cerraram

Recorda o rumor do vento
e nele a minha alma
a minha alma
até ao infinito
à nocturna nudez
das malditas palavras
não-ditas
.
.
Imagem: Vertical Limit, por Carlo Borlenghi, para Alinghi

5 de fevereiro de 2010

Edificação

Talvez pudesse escrever
em verso e não em prosa
sem recorrer à Razão
a história daquele Homem
e daquela Mulher

Da sua indecifrável ferida
do ocaso do amor
das sombras de Rimbaud
do coração

da doçura perdidas
do desespero

sem solução

Do abismo
dos corpos
sem cor
Sem nenhuma cor
Em agitação.

Mas hoje

hoje não há segredos a desvendar.


[A Maria, a Sebastião]

A teoria do gato flutuante


Chegou esta madrugada, por email, uma das teorias que mais podem pôr em causa os estudos de Isaac Newton. Atenta a importância do que está em causa, não resisto a partilhar (clique na imagem para aumentar).

2 de fevereiro de 2010

Overdose nómada

hoje pintar-te-ia os lábios
da cor da luz
ou do mel
ou antes do lume
que arde na tua ausência

hoje pintar-te-ia o rosto
com a luminosidade do amanhecer
com o gesto leve da asa
de uma ave que se eleva
do ramo da oliveira

hoje repintaria as violetas
que me prendem à terra
e o meu canto nómada calar-se-ia
como o silêncio de um pássaro
no fim da migração

hoje o albatroz
dobraria
definitivamente as suas asas
e interromperia a sua navegação
contemplando o teu rosto delicado
de menina

A perfect day

Pavel Haas

Pavel Haas, estudo para Quarteto de cordas, Theresienstadt, 1943

1 de fevereiro de 2010

Vlastimil Kula


o teu corpo
uma precária liberdade

Poema Al Berto

Tricotar reticências
como quem acende uma fogueira
longe... do mundo
antes da chegada dos sonhos
quando se olha o mar sem se pensar
tricotar reticências...
dormindo

num movimento desordenado
exausto
de corpos desorientados
e mãos estendidas
Um rebanho de gente fascinada
por um místico
monólogo

estou
Al

alucinado
[Al]
pendurado
Acordo em
A[l]-
berto
sobres-
salto

na madrugada

lírios extemporâneos

26 de janeiro de 2010

A padeirinha de Estrasburgo


Edite Estrela foi muito criticada por discursar em castelhano (vá lá, haja boa vontade para aceitar que é castelhano). Mas pessoalmente sou da opinião que não há melhor forma de defender a língua portuguesa que a assassinar a espanhola a golpes de catanada. Consta que Zapatero não prescindiu da tradução simultânea.
Su rostro se alzaba en mi pensamiento:
- Sabes dónde está? - me pregunté.
- Creo que sí - murmuró una voz que apenas reconoci como mi propia voz.

Y entonces segui el camiño hasta el puente viejo
Lo atravesé
Sin mirar atrás
Bajo las estrellas

Y en la noche inmensa
sigo y le digo adíos


[Road to 40]

21 de janeiro de 2010

... e Mark Rothko

(mas hoje não há paciência para escrever sobre o assunto)
porque é noite
e os pássaros recolheram já a casa
esqueçamos o tempo
a eternidade
(nenhuma eternidade aliás)
silêncio
é Janeiro
escondamos os corações
(ponto parágrafo)
desvie-se o olhar
dos lírios murchos em cima da mesa
e o vapor de água
depositado numa superfície vítrea
em fúmeas deambulações
(ponto parágrafo)
silêncio
ouçamos, simplesmente
o trabalho das estações
(ponto final)

Zdzislaw Beksinski...



Zdzislaw Beksinski, Limited Editions, Belvedere Gallery