22 de fevereiro de 2010

pego-lhe mão
e nos segredos que revela
morreria de aflição
se
adivinhando o que lhe vai no coração
descobrisse que para além da razão...
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[DELETE POEM]
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Os primeiros minutos deste post foram, por assim dizer, desastrosos. A palavra amor ocorreu-me vinte vezes. As palavras saudade, rugas e futuro, dezasseis. Por oito vezes, pelo menos, pensei em utilizar a palavra quarenta e em pelo menos dez ocasiões a palavra poema surgiu-me esvaziada de qualquer conteúdo significativo. O certo é que verso e estrofe nunca me ocorreram, nem a palavra rima. Já a palavra Timbuctu, África e Elyne Road surgiram-me um número incontável de vezes. Assim como salinas e açoteia. Para sempre surgiu uma vez apenas, quando me lembrei do final de O Amor no Tempo da Cólera, sem que me tivesse passado pela cabeça qualquer concepção ou estimativa de tempo que lhe pudesse estar associado. Estranhamente, Madeira apenas me ocorreu uma vez, sms noutra e depois, também numa única vez, Alberto Caeiro, mas seguramente a propósito de nada. E assim o poema - sendo em todo o caso discutível que se lhe possa chamar poema - finalmente surgiu, fluído e isento de qualquer racionalidade, em estado puro:
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Ouve
a minha voz
um solilóquio monótono
venerando as virtudes da escrita
e a beleza da tua alma
na manhã (im)perfeita
o meu rosto reflectido
no orvalho matinal da estrada
a caminho de lado algum
Toca-me
Cheira-me
Os teus sentidos confundidos nos meus
as minhas mãos entrelaçadas
nas tuas
o tempo
sincronizado com o toque
das tuas impressões digitais
na minha pele húmida.
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(continua aqui)
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Imagem: Red Riders, Carlo Borlenghi, para Alinghi

5 comentários:

Anónimo disse...

Um dia obrigo-te a editar isto, ou envio à socapa com um pseudónimo, para qualquer lado. São duas da manhã e após um ano sem conseguir espreitar, acho que me falta o ar ao pensar, que como eu, há pessoas que não podem vir aqui ler-te, e se perdem da poesia para sempre.
Sem racionalidade, é obsceno quereses que estes poemas sejam dos eleitos que vivem de dia e podem respirar. Eu quero estes poemas para quando for velha. T

Anónimo disse...

Simplesmente, sem palavras para descrever tal sentimento e pensamento.
Muito bom.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Adorei...só podia ser seu!

E. disse...

Obrigado pelo tom dos comentários. Tenho pena que sejam anónimos, mas pronto, ficam entregues.

T., nada de ideias quanto a publicações. Sem negar à partida a água, não quero pensar nisso. Ficam, para já, bem na blogo(e)sfera.