7 de fevereiro de 2010

Edificação (II)

Fica atenta
aos vestígios de tinta
indelével
no correio
que te leva o sabor
das minhas palavras
transcritas da boca para o papel

Ignora o tom agreste
Recompõe-te
imagina-me apenas sentado
não agressivo
a escrever enquanto penso
num recanto inacessível do teu corpo
num sussurro
apagado
do teu coração

Imagina
uma janela
debruçada sobre o mar
liso, brilhante
de um azul monótono
igual a tantas histórias
e pinturas tão simples

Imagina o meu coração
a descoberto
aberto
no ponto em que secou
em que as palavras secaram
o gesto murchou
e os lábios cerraram

Recorda o rumor do vento
e nele a minha alma
a minha alma
até ao infinito
à nocturna nudez
das malditas palavras
não-ditas
.
.
Imagem: Vertical Limit, por Carlo Borlenghi, para Alinghi

3 comentários:

Anónimo disse...

À procura ainda do segredo. Subindo os andares das palavras, no infinito da edificação mais alta. Sem desvendar o vento, nem a monotonia das cores. Prosa. Agreste. Seca. Murcha. Cerrada.

vira latas disse...

palavras não ditas...

qd se diz sem falar
qd se sente dem tocar
qd se ouve sem escutar

qd se ama sem querer !!!

qd se regressa sem voltar .......!

Anónimo disse...

Se eu pudesse dilacerar a face para merecer um poema como este, não hesitaria...T.