27 de novembro de 2008
numa linda tarde de Outono
o meu olhar esbarrou no teu
de forma simples
despojada
descrevendo o arco de um poema
uma pequena melodia
sem fim
as minhas mãos procuraram as tuas
na distância
alcançando-as
enquanto sopesava o teu coração
.
Em silêncio
aprendi a gostar de ouvir o teu riso
e a mergulhar nas palavras que te adivinhava
mesmo quando nada havia a dizer
Acostumei-me
a ignorar as confusões do amor
mas não as estrelas
ou a lua
que em cada noite te oferecia
na esperança que aceitando-as
te tornasses a minha Esfinge.
25 de novembro de 2008
24 de novembro de 2008
E se Obama fosse africano?
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
20 de novembro de 2008
Ai se a moda pega com os filhos dos políticos portugueses...
18 de novembro de 2008
El Amor Brujo
El Amor Brujo, Danza del Fuego Fatuo
El Amor Brujo é uma obra emblemática. Pela inovação, porque representa uma viragem na música ibérica traduzida num desvinculamento das tradições recebidas dos cânones da música clássica herdados do romantismo, mas sobretudo porque incorpora as tradições do flamenco andaluzo numa base clássica, assumindo marcadamente a fusão de dois estilos tão diferentes, sem contudo recorrer ao uso de qualquer sonoridade musical tradicional na música andaluza (não há castanholas, nem tamborinos, nem palmas, nem batida de pés no solo, nem sinos), embora os mesmos sejam perceptíveis através da interpretação de outros instrumentos como o piano, cordas ou metais. A grande riquezas da obra resulta ainda desse aspecto, da subsunção da alma flamenca em instrumentos não tradicionais na folk music, de uma forma quase subliminar.
A peça musical traduz diversos estados de alma dos personagens, os quais mudam ligeiramente entre os diversos "episódios", donde as ligeiríssimas variações entre frases musicais cuja percepção nem sempre é evidente.
A princípio, a obra, encomendada por uma bailarina cigana (Pastora Imperio), não foi bem recebida pelo público, mas os sucessivos acertos que lhe foram introduzidos por Falla levaram a que se tornasse num ícone a partir da segunda década do séc. XX, quando o compositor a transformou numa peça de ballet a acompanhar por uma orquestra inteira. A peça requer, quando interpretada a solo, bastante virtuosismo, patente de resto na tardia Dança Ritual do Fogo, brilhantemente interpretada por Arthur Rubinstein (e por ele retocada a versão para piano). Rubinstein travou conhecimento com Falla entre 1915 e 1916 aquando de uma digressão deste por Espanha, a caminho do vapor que o levou em 1916 para uma digressão no continente Sul Americano e tornou-se seu admirador.
No dia da estreia de El Amor Brujo, em 15 de Abril de 1915, em Madrid, o jornalista Rafael Benedito entrevistava Manuel de Falla para o La Patria: "Hemos hecho una obra rara, nueva, que desconocemos el efecto que pueda producir en el público, pero que hemos "sentido".
Falla compôs diversas versões de El Amor Brujo para orquestra grande, reduzida, coro e ballet e uma delas, uma versão para sexteto, foi estreado em Lisboa, em 1915.
Como R. M. Rilke, também Falla teve uma cidade sonhada, que no seu caso era Granada, segundo palavras da sua companheira: Una mañana de abril [...] dije: "Hoy vamos a visitar la Alhambra". Y allá fuimos [...]. Al llegar a las puertas de lo que fue palacio y fortaleza, dije a mi compañero de peregrinación: "Déme usted la mano, cierre los ojos y no vuelva a abrirlos hasta que yo le avise". Consintió en mi capricho, divertido como chiquillo que juega a ser ciego [...]. Condújele a la ventana central [de la Sala de Embajadores en la Torre de Comares] [...] "¡Mire usted!", dije soltando la mano de mi compañero. Y él abrió los ojos. No se me olvida el ¡aaah! que salió de su boca. Fue casi un grito.
MARTÍNEZ SIERRA, María. Gregorio y yo. Medio siglo de colaboración. Valencia, Pre-Textos, 2000, p. 195.
9 de novembro de 2008
8 de novembro de 2008
Vendée Globe
Um homem, um barco, três oceanos, uma volta ao mundo,
24.000 milhas sem assistência e sem escalas
6 de novembro de 2008
Omer Granot
O meu pai é Natalin Granot, um especialista em Irão que se demitiu de "número dois" da Mossad, em 2007, quando não o promoveram a chefe da principal agência de espionagem de Israel. Eu, Omer Goldman, 19 anos, sou uma pacifista e, hoje, regresso à prisão nº 400, numa base militar próxima de Telavive. Recuso-me a servir num exército que comete, todos os dias, crimes de guerra nos territórios palestinianos ocupados.
Fui recrutada para o serviço militar obrigatório aos 18 anos, mas já no liceu eu decidira que não queria ir para a tropa. Assim que deixei a escola, e antes de me inscrever na faculdade, dei aulas a crianças pobres num bairro de judeus etíopes. Quando me chamaram, entreguei uma declaração aos oficiais onde afirmava: "Recuso alistar-me nas Forças de Defesa de Israel (IDF). Não farei parte deste exército que, desnecessariamente, pratica actos de violência e viola os mais básicos direitos humanos."No dia 23 de Setembro, sem ter sido julgada, fui cumprir 21 dias de detenção. Fui libertada a 10 de Outubro, mas voltei para um segundo período, desta vez apenas de 14 dias, porque fiquei doente. Saí novamente em liberdade, na sexta-feira, dia 30 de Outubro. Estes ciclos irão repetir-se até que o exército se canse, porque eu não vou desistir. Conheço pessoas que passam muito tempo reclusas. Um exemplo é Jonathan "Yoni" Ben-Artzi, sobrinho do líder da oposição, Benjamin Netanyahu. Esteve detido um total de 18 meses ao longo de oito anos. Em 2007, conseguiu que o Supremo Tribunal validasse os seus argumentos para não ser soldado (ele era completamente contra qualquer forma de luta - nem quando era miúdo aceitou aulas de judo), mas fracassou no intuito de ver reconhecido o estatuto de objector de consciência em Israel.
Angel Eyes, Leaving Las Vegas
From: Matt Dennis, Earl Brent
Performed by Sting