17 de janeiro de 2008

Perfeitos Milagres


Não uma, mas três histórias que se entrecruzam. Alguns dos personagens conhecem-se, outros não, como na vida real. Parte da história foi escrita por Jacinto Lucas Pires durante um período em que viveu numa residência de escritores, nos arredores de Nova Iorque. Os personagens, uma estrela de rock em fuga, procurando livrar-se do seu estatuto após o suicidio inexplicado da sua companheira; dois jornalistas enviados especiais à procura de histórias; um grupo de teatro de rua à procura de um novo formato para as suas apresentações. Não há um fio narrativo, uno, nem um final feliz. Há coisas que acabam bem e outras menos bem, uma pulverização de soluções para os personagens que foge a uma inocência romântica. As personagens são actores em palco, por vezes com comportamentos quase surreais (ou não fosse Jacinto Lucas Pires igualmente um encenador e realizador) e com alguma comédia ou pelo menos requinte burlesco à mistura - visível, por exemplo, no anseio do grupo de teatro em representar a peça da morte da sua própria morte e no calão português utilizado por personagens supostamente americanas. Esquisito? Nem por isso, trata-se apenas da realidade dissolvida e reduzida a um papel secundário e subalterno à realidade da própria representação.

Em suma, é um bom livro, recomenda-se, mas ficamos com água na boca à espera daquele livro melhor que, seguramente, Jacinto Lucas Pires terá para dar.

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