18 de janeiro de 2008
L' avant-dernier mot
Notre avant-dernier mot
serait un mot de misère,
mais devant la conscience-mère
le tout dernier sera beau.
Car il faudra qu’on résume
tous les efforts d’un désir
qu’aucun goût d’amertume
ne saurait contenir.
Rainer Maria Rilke
17 de janeiro de 2008
Perfeitos Milagres
Em suma, é um bom livro, recomenda-se, mas ficamos com água na boca à espera daquele livro melhor que, seguramente, Jacinto Lucas Pires terá para dar.
Yep, the man did it again...
Goste-se ou não, é impossível ficar indiferente a tudo o que este novo MacBook Air traz. Mormente, ao design, a pedra de toque, desde há muito tempo, de Steve Jobs. Saiu esta semana e já não chega para as encomendas.
Bem ou...
14 de janeiro de 2008
To Have and Have Not
A cena, uma das mais conhecidas em toda a história do cinema, foi escrita por Howard Hawks, realizador de "To Have and Have Not", e era inicialmente um teste a Lauren Bacall. Todavia, a forma como Bacall interpretou a cena foi tão sugestiva e forte, que Hawks decidiu integrá-la no filme, muito embora não constasse do livro escrito por Hemingway. Na verdade, embora inspirado no livro de Hemingway, o filme apenas lhe é fiel durante os primeiros minutos, depois diverge para campos não abordados pelo escritor. Realizado em 1944, na Martinica, "To Have and Have Not" era visto como uma espécie de sequela de Casablanca, embora não rodado pelo mesmo realizador (Casablanca é de Michael Curtiz). Apesar disso, não teve o sucesso daquele ícone, sendo um clássico, mas não um grande filme. Teve contudo o enorme mérito de juntar a mulher mais bonita e sensual da história do cinema e o melhor actor de sempre - Humphrey Bogart - pela primeira vez. Ambos se conheceram e apaixonaram durante as filmagens, Bogart ia então no seu terceiro casamento.
"The ONLY kind of woman for his kind of man." Their palpable chemistry and electricity is sizzling as their relationship rapidly heats up (on-screen and off-screen), and they affectionately call each other "Slim" and "Steve.
Acerca do romance, um despeitado Howard Hawks terá dito que Bogart se apaixonou, não por Bacall, mas pela sua personagem - Marie - e assim, aquela terá tido que representar o papel durante o resto da vida de Bogart. Verdade ou não, pouco importa, casaram no ano seguinte e a união durou até à morte de Bogart, em 1957.
11 de janeiro de 2008
Fumus
Entre todas as dúvidas que a nova lei do fumo suscita, uma coisa parece certa e óbvia: não é proibido fumar no interior de templos, salas de culto e quejandos. A beata aqui não está, por enquanto, proibida.
Le Temps
Em que medida
o tempo é uma medida?
E podemos contá-lo, apontá-lo
vê-lo crescer, aninhar-se em cada canto,
sentir a Primavera, o Outono
e o Inverno do tempo que passa,
enquanto esperamos
pela chegada do Verão,
que pode nunca chegar. E se chegar?
E se nunca chegar? Ou sabemos,
porque assim aprendemos,
crianças de colo ainda,
e confiamos
que o Verão chega sempre.
Sempre.
E nos abandonamos
nos braços do tempo,
mesmo quando esse tempo
nos traz saudades de um tempo [ainda] ausente?
O Verão chega sempre.
Sempre.
O Verão há-de vir,
é preciso esperá-lo em sossego,
serenamente. Só assim
o amor é uma eternidade.
Nem tudo é cego na Justiça portuguesa
9 de janeiro de 2008
Ainda sobre a Insustentável Leveza...
... há algum tempo que penso em Tomás, mas creio que apenas com base nessas horas de reflexão é que o pude ver distintamente, junto à janela do seu apartamento, olhando pelo pátio para as paredes do outro lado, sem saber o que fazer. Tomás conhecera Teresa cerca de três semanas antes, numa cidade no interior profundo da antiga Checoslováquia. Não tinham passado nem sequer uma hora juntos. Ela acompanhara-o à estação, aguardando a seu lado até que ele embarcou no comboio. Dez dias mais tarde, foi visitá-lo. Fizeram amor no dia em que ela chegou. À noite, ela caiu de cama com febre e, engripada, passou uma semana inteira no apartamento dele. Tomás acabou por nutrir um amor inexplicável por aquela completa desconhecida; ela parecia-lhe uma criança, uma criança que alguém colocara num cesto de vime revestido de alcatrão e que assim enviara rio abaixo, para que Tomás o apanhasse às margens de sua cama.
Teresa ficou com ele quase uma semana, até se recuperar, regressando em seguida para a sua cidade, a uns duzentos quilómetros de Praga.
E chegou então o momento que mencionei há pouco, que vejo como a chave da sua vida: postado junto à janela, ele olhava por sobre o pátio para as paredes em frente, ponderando. Devia chamá-la de volta a Praga para sempre? Temia a responsabilidade. Se a convidasse, ela viria, oferecendo-lhe a própria vida. Ou devia evitar uma aproximação? Nesse caso, ela permaneceria sendo uma empregada de copa num restaurante de hotel de uma cidade do interior, e ele jamais a veria novamente.
Queria ou não que ela viesse? Olhando por sobre o pátio para as paredes em frente, Tomás procurava por uma resposta.
Irritou-se consigo próprio, até perceber que, na verdade, era bastante natural que não soubesse o que queria. Jamais nos é possível saber o que queremos, pois, vivendo uma única vida, não podemos compará-la às nossas vidas anteriores, ou aperfeiçoá-la em vidas futuras. Era melhor ficar com Teresa ou sozinho? Não há como testar qual decisão é a melhor, porque não há base para comparação. Vivemos as coisas conforme elas se apresentam, desavisados, como um actor que entra num palco sem ensaiar.
De que vale a vida, se o primeiro ensaio para ela é a própria vida? É por isso que a vida é sempre como um esboço. Não, "esboço" não é bem a palavra, porque um esboço constitui-se das linhas gerais de alguma coisa, a base de uma pintura, ao passo que esse esboço que é nossa vida é um esboço de coisa alguma, linhas gerais de pintura nenhuma.
Einmal ist keinmal, diz Tomás a si mesmo. O que só acontece uma vez - afirma o provérbio alemão - melhor seria que não tivesse acontecido. Se temos uma única vida para viver, melhor seria não termos vivido?
Tativille
Playtime, 1967, de Jacques Tati
8 de janeiro de 2008
6 de janeiro de 2008
The Unbearable Lightness...
Italo Calvino, na sua crítica à obra resumiu-a assim: "O peso da vida, para Kundera, está em todas as formas de opressão. Este livro mostra-nos como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba por se revelar de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação - as qualidades da escrita de Kundera pertencem a um universo que não se limita aquele do viver".
E é, de facto, esse, o drama de Sabina: "O que lhe acontecera ao certo? Nada. Deixara um homem porque queria deixá-lo. Esse homem tinha vindo atrás dela? Tinha querido vingar-se? Não. O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."
.
[É que,]
.
"... Franz é forte, mas a força dele está unicamente voltada para fora. Com as pessoas com quem vive, com aqueles que ama, é muito fraco. A fraqueza de Franz chama-se bondade.
[...]
Então [Sabina] perguntou a Franz:
- E porque é que de tempos a tempos não te serves da tua força contra mim?
- Porque amar é renunciar à força', disse Franz, com doçura.
Sabina percebeu duas coisas: primeiro, que aquela frase era bela e verdadeira; segundo, que, com aquela frase, Franz acabara de se desvalorizar para sempre na sua vida erótica"
Esta manhã, divagando por Berlim e Bertolt Brecht
Um dia
sob o céu azul de Setembro
silenciosamente, debaixo de uma ameixeira,
envolvi-a
[à minha pálida amante]
em meus braços,
como num sonho belo,
encantador.
Acima de nós,
no lindo céu de verão
uma nuvem atravessou-me o olhar.
Branca, muito branca
alta, muito alta
leve, insustentavelmente leve.
Ao entardecer, olhei novamente. Desaparecera.
Simplesmente. Sem deixar qualquer vestígio.
3 de janeiro de 2008
Les Sombres Parcours de l' Amour
2 de janeiro de 2008
Ainda sobre Zbigniew Preisner
Uma entrevista ao compositor e a Teresa Salgueiro a propósito de Silence, Night & Dreams:
Silence, Night & Dreams
Uma outra grande composição de Preisner é Requiem For My Friend, celebração em dois actos da morte (Requiem) e da vida (Life). Cada parte tem nove movimentos destinados a orquestra, coro e solistas igualmente. Inicialmente pensada para ser uma composição destinada a ser apresentada em diversas salas de espectáculos em todo o mundo numa produção conjunta de Preisner, Kieslowski e Piesiewicz, a morte prematura de Kieslowksi veio modificar tudo. Assim, a primeira parte de Requiem For My Friend transformou-se numa imperdível homenagem a Krzystof Kieslowski - Qui erat et qui est (acto sete).
"Once, we had a joint conception to create a concert telling a life story. The premiere was planned to take place on the Acropolis in Athens. It was intended to be a large event, a hybrid of a mystery play and an opera. Krzysztof Kieslowski would be the director, Krzysztof Piesiewicz was responsible for the script, and I was planning to compose the music. Once, we thought it might be the first of a series of musical performances, to be developed in various interesting places around the world in the next few years. But it was life that authored a different ending: Krzysztof Kieslowski died on 13th March 1996. The first part of Requiem for my friend is meant as a farewell to Krzysztof Kieslowski. I dedicate this music to him".
Zbigniew Preisner