Grazina Bacewicz é uma compositora polaca que morreu em 1969, mas comemora-se agora o centenário do seu nascimento. A raridade de se tratar de uma compositora, judia e de pouco ter escrito para piano, mantiveram a sua divulgação a um nível pouco mais que confidencial. Zimerman resolveu pegar na complexidade do seu repertório e a Deutsche Grammophon cedeu a etiqueta, sendo o trabalho absolutamente espantoso e absolutamente essencial em qualquer colecção. Destaque para a Sonata 2. para piano que integra o álbum.
28 de maio de 2011
27 de maio de 2011
Árvores para o fim de semana
Um ano depois da exibição, fora do concurso, de "The Tree" de Julie Bertuccelli em Cannes, filme que não foi muito aplaudido pela crítica, eis que uma outra árvore, a árvore de Malick, surge como grande vencedor do festival francês. A crítica (uma entidade quase tão difusa como "os mercados", desta vez tem tecido os mais rasgados elogios é película, pelo que a expectativa é grande. Por ser uma história americana, pode ficar aquém das expectativas dos mais puristas (que aqui se devem entender como intelectuais). No entanto, se há filmes que através de lugares comuns (o amor, a família, o dinheiro, o sucesso, a traição) nos cansam nos primeiros minutos, "The Tree of Life" pode ser daqueles filmes que nos faz descobrir através desses lugares comuns o que ainda não descobrimos. É um daqueles filmes que nos pode fazer crescer, se o virmos de mente aberta. É esse o desafio lançado por Terrence Malick, possivelmente o único (mas gratificante) motivo pelo qual vale a pena ir ver a obra. Eis, portanto, a sugestão para o fim de semana em que estreia nas salas portuguesas.
25 de maio de 2011
Noite de Ronda
Noite de Ronda é uma noite de paixões onde homens e mulheres se espiam, se vigiam, se seduzem e desejam num ritual viciante e viciado. Os corpos atropelam-se patrulhados de segredos desnorteados, num impacto feroz onde as acções nunca se explicam. A insistência faz rolar o suor de unhas cravadas contra a pele. O espaço é íntimo, fechado, uma prisão perpétua repleta de sons compassados e violentos. Nasce o dia. Os pássaros cantam mais enervantes que nunca. O frenesi continua. O estore baixa.»
21 de maio de 2011
(ainda sobre o centenário da morte de Mahler )
...e acabamos por não conseguir terminar de escrever o que nos propuséramos inicialmente. Vinha isto a propósito do centésimo aniversário da morte de Gustav Mahler. Há dias procurava as palavras certas para descrever o compositor. Alguém me sugeriu que seria uma pessoa que tinha um ego superior à sua auto-estima. Alma Schindler, a mulher, uma vez descreveu-o como "alguém que queima quando nos aproximamos dele". Provavelmente tê-lo-á dito num desabafo de alguém que abandonou um processo criativo (era também compositora) para se dedicar às criações de outrem. Este abandono coincidiu com uma fase de declínio e pessimismo do compositor, que contudo nunca deixou de acreditar que a sua hora chegaria. E assim foi. A fase pessimista, a apatridia e o exílio voluntários (nem austríaco, nem alemão e sobretudo judeu) apenas cessaram com o reconhecimento que a partir da sua oitava sinfonia e o reconhecimento público que a sua oitava sinfonia despertou.
A estreia da oitava sinfonia, em Munique, no Outono de 1910, perante uma plateia que esgotara a lotação do Neue Musik-Festhalle, foi um sucesso extraordinário, tendo gerado uma ovação que durou mais de 20 minutos. Entre as celebridades na plateia, encontravam-se Richard Strauss, Thomas Mann, Max Reinhardt e o então desconhecido Leopold Stokowski, que meia tarde foi um fiel intérprete das suas composições. Mas havia ainda um tal Arnold Schöenberg e pensa-se que Kandinsky também se encontrava na plateia. Seja como for, foi a última vez que Mahler conduziu a estreia de um trabalho seu. Em Maio de 1911 morria em Viena. As nona e (incompleta) décima sinfonias estrearam-se apenas depois da sua morte. Efectivamente, como dissera Alma Schindler, Mahler queimava. O seu talento queimava como um pássaro de fogo que o tempo permitiu voar.
Thomas Mann escreveu, Luchino Visconti realizou. Ambos imortalizaram Mahler n'"A Morte em Veneza". Há quem veja no compositor retratado no filme uma caricatura de Mahler e da sua devastação. A ideia de corrupção dos ideais, patente na pestilência que se agrava ao longo do filme e que vitimiza o personagem principal de cólera, quase mata a ideia de beleza eterna da cidade dos canais, mas são o tema fulcral do filme. A pedra de toque, o cerne da imortalidade, acaba contudo por ser o quarto andamento da quinta sinfonia, o adagietto, que abre e encerra o filme realizado há trinta anos.
20 de maio de 2011
18 de maio de 2011
17 de maio de 2011
Wim Wenders, Pina (trailer) D
PINA - Dance, dance, otherwise we are lost - International Trailer from neueroadmovies on Vimeo.
Wim Wenders, em entrevista filmada ao Guardian:
"I never knew, with all my knowledge of the craft of film-making, how to do justice to her work. It was only when 3D was added to the language of film that I could enter dance's realm and language." 3D, with its illusion of depth, could, it was felt, open out the flatness of the cinema screen and give dance the depth and sculptural quality it needed to work cinematically...
16 de maio de 2011
Os três porquinhos em Dublin
A final da Liga Europa disputa-se em palco irlandês, os dois finalistas são portugueses e agora o árbitro é espanhol. Pergunto-me que papel estará reservado para os gregos nesta final de PIGS?
Coelho, o Africano
Em campanha ontem, na Brandoa, junto das comunidades africanas, Pedro Passos Coelho disse-se "o mais africano de todos os candidatos". E isto porque, tendo a mulher nascido na Guiné, é africana. E por isso, a filha de ambos também o é. Logo, com tanta africanidade, Passos Coelho também é um africano. Mais do que a indecência e a iconoclastia, o que verdadeiramente choca é perceber quão baixo caíram as Doce.
11 de maio de 2011
À pesca das consciências

Li há dias, com interesse, que no dia da Europa, Maria Damanaki, a comissária grega da UE que lidera a pasta das pescas propôs que os pescadores desempregados europeus se dediquem a uma pesca diferente: a do plástico e outros resíduos no Mar Mediterrâneo. Um estudo franco-belga indica que há mais de 500.000 toneladas de plástico e outros resíduos à deriva no Mediterrâneo, o berço da civilização europeia e o modo de vida de tantas pessoas de um e outro lado da sua bacia. Que esses resíduos, alem de perigosos para a bio-diversidade, possuem ainda um relativamente elevado valor económico, conforme interesse já demonstrado por diversas empresas alemãs, francesas e espanholas.
Paralelamente resolve-se, ainda que parcialmente, a questão do desemprego no seio das frotas da UE.
Estava a pensar nisto quando me vieram à memória as imagens das redes do campo de refugiados de Melilla, alguns dos quais podem ser parte desses destroços, naufragados na tentativa de chegar a bom porto nas costas da Europa. E pior: que pensarão os pescadores europeus quando, nos seus aparelhos, pescarem das águas os despojos, o calçado, a roupa, os parcos haveres daquelas seis dezenas de refugiados africanos que há pouco tempo o "The Guardian" informava que andaram à deriva durante dezasseis dias perto das costas europeias e que a NATO ignorou e deixou morrer de fome e de sede?
10 de maio de 2011
Haevnen - Num mundo melhor
O filme de Susanne Bier premiado com o Óscar de melhor filme estrangeiro para 2011 é um dos imperdíveis para este ano. Situações limite no seio de duas famílias são o mote para uma película fabulosa, onde os personagens oscilam frequentemente entre a vingança e o perdão. Um casamento e uma amizade são duramente postos à prova em dois locais tão distintos quanto um campo de refugiados no Sudão ou numa cidade idílica na Dinamarca.
A complexidade das emoções humanas, a dor e a empatia entre pessoas é aquilo que sobressai num filme para gente muito crescida que tem colecionado prémios em quase todos os certames por onde passou.
7 de maio de 2011
A essência de Klimt na Behance Network

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
(Maria Teresa Horta)
3 de maio de 2011
Ernesto Sábato, uma luz ao fundo do "Túnel"

Morreu no dia 30, em Buenos Aires, com 99 anos. Publicou várias obras, mas a mais importante, não pelo conteúdo literário, mas pelo que representou, foi o trabalho desenvolvido quando, em 1985, a convite de Raúl Alfonsin, presidiu à Comissão Nacional que publicou o relatório “Nunca Más” sobre a repressão dos governos militares na Argentina de 1976 a 1983 , que permitiu o julgamento de vários militares.
Sobre si próprio escreveu: "durante esse tempo [em que trabalhava no laboratório de Curie] de antagonismos, pela manhã sepultava-me entre eletrómetros e provetas e anoitecia nos bares, com os surrealistas delirantes. No Dome e no Deux Magots, alcoolizado com aqueles enviados do caos e da transgressão, passávamos horas a elaborar cadáveres refinados". [...] "Eu sou um anarquista! Um anarquista no sentido melhor da palavra. O povo crê que anarquista é aquele que põe bombas, mas anarquistas foram os grandes espíritos como, por exemplo, Leon Tolstoi".
(Entrevista no diário O Tempo, Bogotá, 22 de junho de 1997)
29 de abril de 2011
Há algumas noites, enquanto me olhava ao espelho a decifrar os traços da vida a que os mais pessimistas convencionaram chamar rugas, a minha memória revisitou um velho poema de Luís Amorim de Sousa:
dizia Lindsay Anderson
voltando-se para o seu Hamlet
: nada permanece
you know?
Um leve estremecimento percorreu-me, ao mesmo tempo que o silêncio se instalou entre cada sílaba das palavras que pensei sem dizer, que não fui capaz de dizer, dizendo-as na mesma. Estranho sentimento este o de nos ouvirmos e sentir que ninguém ouve o que dizemos sem dizer ou duvida do que dissemos sem dizer.
Que fazer?
Mudar
de pele
.
9 de março de 2011
3 de março de 2011
A morte do cisne
Há instantes recebi o link acima, da prestação de um concorrente num concurso brasileiro onde este reencarna a coreografia a solo de "A morte do Cisne", de Michel Fokine para Anna Pavlova. Apesar de ter assistido às prestações de Maya Plisetskaya e de uma recente reencarnação da coreografia por Elena Glurdjidz para Karl Lagerfeld no centenário da “Ballets Russes” de Serge Diaghilev, com traje inspirado no original de Coco Channel, não deixo de ficar surpreendido com a prestação "pós-moderna" de John Lennon da Silva e o seu traje de menino da rua.
iPad 2

Ontem (dia 2 de Março) foi mesmo apresentado o iPad 2. Num mundo em que dezenas destes tablets são lançados semanalmente, que interesse tem um novo iPad, que pouco traz de novo em relação ao modelo anterior? Para começar, um pouco mais de definição, melhor ecrã, mesmo tempo de duração da bateria, sistema operativo revisto, câmara frontal, maior capacidade de processamento. O 2 não vem revolucionar, como o primeiro, nem estabelecer um novo padrão de computação, que a Microsoft já tinha experimentado, sem sucesso (culpa do seus pesado sistema operativo) em 2003. O 2 vem apenas reposicionar a Apple no segmento, repondo alguma da vantagem que esta detinha e que a pouco se ia esbatendo face aos seus rivais. Continua a faltar uma porta USB, uma ranhura para cartões, uma saída HDMI... Em suma, quer-me parecer que a Apple limitou a colocar no 2 o que de melhor tem o iPhone 4, juntando o processador A5 e a interface Thunderbolt que recentemente havia sido apresentada nos novos MacBook Pro. Parece que ontem, em Palo Alto, se comentava que lá para Setembro deve sair um iPad 3 que, esse sim, deverá ser HD, ter porta USB e a tal ranhura para cartões.
Mas então, qual a pressa de lançar este 2? Em primeiro lugar, porque essa tem sido a estratégia da Apple: não oferecer mais do que o estritamente necessário. Isso permite que, sem abrir o seu SO a terceiros, manter uma compatibilidade satisfatória entre versões de hardware, sem que o utilizador tenha de acompanhar cada evolução técnica (os actuais proprietários de iPhone 3 ainda conseguem instalar a mais recente evolução do SO, com algumas restrições de aplicações, como o Facetime, por exemplo). Isso sucede igualmente nos MacMini, nos MacBook, iBook, etc. Em segundo lugar, porque pode perfeitamente suceder que Steve Jobs não sobreviva a Setembro e era importante que fosse ele a apresentar a nova máquina que coloca o iPad ao nível do iPhone 4 e do iPod. Em terceiro lugar, menos importante para o utilizador, mas muito importante para Jobs e para a Apple, porque as acções da companhia estavam a ressentir-se dos rumores que vêm ditando o seu afastamento e ontem bastou que o criador tivesse aparecido por breves instantes na sala para que os mercados se manifestassem de forma positiva, sobretudo depois de terem sido anunciados os resultados das vendas iTunes em 2010.
Dificilmente, depois de ontem, quem ainda não tem um iPad quererá não ter um. Por outro lado, quem tem o primeiro, provavelmente não se justifica que invista no segundo. É que, estamos em crer que as novidades não justificam um novo investimento. Ou a macmania fará das suas? That is the question.
22 de fevereiro de 2011
Google Art Project
No seu esforço contínuo de se transformar numa marca (ainda) mais global e omnipresente, a Google passou a permitir a visita virtual a dez museus (and counting!) do mundo. Assim, comodamente instalado no sofá, o visitante pode agora, através do Art Project, passear-se, por exemplo, pelo Reina Sofia e o Thyssen-Bornemisza de Madrid, o Rijksmuseum de Amsterdão, o MoMA de Nova Iorque, o Palácio de Versalhes, a Tate ou a National Gallery de Londres, entre outros.
21 de fevereiro de 2011
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