Ontem a palavra de ordem na Catalunha era "votaran" (votaremos). E assim foi, para muitos, com maior ou menor solenidade, com o formalismo censitário próprio (mas nem sempre assim foi). Rajoy fez o que lhe foi possível para evitar do sufrágio, recorreu à força e à força desproporcionada. Foi ultrapassado pelos acontecimentos e não controlou a guarda. E foi aí que cometeu o seu pecado, porque um Estado que não controla a sua guarda - sobretudo quanto esta não tem o sentido da proporcionalidade - ao tratar pessoas que querem exercer o seu direito de voto pacificamente, ainda que este não esteja autorizado, torna-se um estado perigoso. Talvez Rajoy e o poder em Madrid tivesse tido receio, mas o certo é que ontem, possivelmente, Rajoy perdeu a Catalunha. Os catalães têm ainda muito presente o tempo de Franco e não perdoam a Madrid nenhum excesso como o que se viu ontem.
Independentemente do oportunismo e da irresponsabilidade que possa existir na demanda pela secessão do lado dos independentistas, se Carles Puidgemont avançar com a proclamação da independência unilateral que prometeu ontem, no calor da "sua" vitória referendária, Rajoy não terá outra alternativa ao envio das tropas. Numa Espanha que ainda não se esqueceu da guerra civil e que ainda carrega as suas cicatrizes e rancores, a situação tem todos os ingredientes para se tornar explosiva se o diálogo não se estabelecer. A União Europeia, ainda mal refeita do embaraço do Brexit, tem agora uma frente muito mais urgente para mediar, antes que se perca o controlo.
Ontem ao ouvir "Els Segadores" (os Ceifadores), o hino catalão, ecoaram-me as palavras da letra de "Diguem No", de Raimón, o cantautor valenciano que optou por cantar em catalão:
Ontem ao ouvir "Els Segadores" (os Ceifadores), o hino catalão, ecoaram-me as palavras da letra de "Diguem No", de Raimón, o cantautor valenciano que optou por cantar em catalão:
"agora que estamos juntos
direi o que tu e eu sabemos
e muitas vezes esquecemos
Vimos o medo
ser a lei
Vimos o sangue
-o que apenas faz sangue-
ser a lei do mundo
[...]
vimos ser trancados
na prisão
Homens cheios de razão"
Talvez Rajoy e o Partido Popular não conheçam a letra de "Diguem No" e não se tenham dado ao trabalho de perceber o que está em causa. Talvez a União Europeia já chegue tarde do incêndio catalão, mas pode ser que ainda se evite o pior. A história ensina-nos que os povos sobrevivem a tudo, só não sobrevivem às guerras.
direi o que tu e eu sabemos
e muitas vezes esquecemos
Vimos o medo
ser a lei
Vimos o sangue
-o que apenas faz sangue-
ser a lei do mundo
[...]
vimos ser trancados
na prisão
Homens cheios de razão"
Talvez Rajoy e o Partido Popular não conheçam a letra de "Diguem No" e não se tenham dado ao trabalho de perceber o que está em causa. Talvez a União Europeia já chegue tarde do incêndio catalão, mas pode ser que ainda se evite o pior. A história ensina-nos que os povos sobrevivem a tudo, só não sobrevivem às guerras.
(*) sobreviveremos?
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