Lazila pertencia à classe de mulheres que trabalhava na aldeia. Nunca tinha tido filhos e um acidente na infância privara-a dessa possibilidade, pelo que nunca um homem a tomara. O pai, primeiro, e a mãe a seguir, morreram de desgosto e cada uma das irmãs foi partindo, melhor dizendo levadas, pelos estrangeiros de passagem pela aldeia, que a troco de umas moedas descansavam a consciência do soba. Lazila não. Os seus olhos, espessos como ameixas, inspiravam receio nos homens, ao ponto de um deles se ter oferecido para a matar. O soba pensou, mas pareceu-lhe que dispender umas moedas para isso seria um desperdício. E para além do mais, quem iria buscar água ao rio, ou levar o gado a beber na secura do estio?
O ancião, acocorado à porta da palhota, deixou cair um punhado de grãos na poeira do solo e ficou a olhar para as pequenas bolas espalhadas. O conhecimento exaustivo ditado por centenas de arremessos permitiu-lhe afirmar com segurança que não choveria nessa semana. Nem talvez nesse mês e dentro de dias o rio secaria, trazendo consigo os gafanhotos que devorariam a colheita e picariam os animais, espantando-os para longe.
Chamou Izam, o filho do soba, entregou-lhe uma vara e mandou-o procurar água longe. Que levasse Lazila consigo. Ao cair do dia ela regressou, sozinha, à aldeia, trazendo uma cabaça de água equilibrada na cabeça, um fino fio de sangue escorrendo pelo canto do lábio. O soba arremessou novamente os grãos e entoou um canto fúnebre quando a fogueira foi avivada. A vida prosseguiu em seguida. O lábio de Lazila cicatrizou e a seca nunca chegou.
Road to 40
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