Virava uma página
uma após outra
uma de cada vez
em silêncio
mas eu conseguia ouvi-lo a virar as páginas
na sala ao lado
banhadas pela luminosidade amarelada
do candeeiro de latão instalado junto à janela
Por vezes dormitava
mas a cabeça nunca pendia
nem os olhos soçobravam na atenção
o avô
mesmo sem ler
parecia que percorria também o meu livro
porque ao deitar me falava dos personagens das minhas histórias
Este inverno trouxe-me os seus cem anos
e a memória do seu perfume de mar
arde
em cada lenho que
melancolicamente
atiro para o fogão.
1 comentário:
Do seu, do teu perfume de mar.
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