Anne-Sophie Mutter volta ao estúdio com os Solistas de Trondheim depois da gravação do concerto das Quatro Estações. E novamente, também agora não se limita apenas a tocar Bach, na medida em que a sua predilecção é a música contemporânea. Por isso, dado que Sofia Gubaidulina, uma das mais destacadas compositoras da actualidade compôs recentemente um concerto - In tempus praesens - e dedicou-o a Anne-Sophie Mutter, esta aproveitou a ocasião e repetiu um sucesso já experimentado com o concerto das Quatro Estações de Vivaldi, onde junta os solistas de Trondheim e a London Symphony Orchestra sob a regência do russo Valery Gergiev, contrapondo a contemporaneidade de Gubaidulina aos dois concertos para violino e orquestra de cordas de Joahnn Sebastian Bach.
Há quem se divida quanto ao resultado, mas num aspecto não há duas opiniões divergentes: Anne-Sophie Mutter é exímia na sua arte de encantar enquanto dedilha o violino. Imprescindível portanto neste Natal (da Deutsche Grammophon).
Mutter cresceu bastante. As noções musicais que agora fluem não são apenas de uma intérprete perfeita e rigorosa, mas de alguém que tem a flexibilidade para perceber que da forma como dedilha o violino o mundo pode mudar se o fizer com a alma que percebeu que tem. Bach torna-se muito mais rico do que alguma vez o foi na musicalidade e o concerto de Gubaidulina é vibrante nas mãos de Mutter, desde a primeira nota, que antecede um curto solo de violino, magnificamente interpretado, quase como um pedido de alguém que não consegue respirar e precisa de o fazer. Está dado o mote e os solistas de Trondheim são por sua vez contagiados pela energia de Mutter. Uma nota apenas: não há concessões musicais ao barroco nestas peças: a musicalidade é toda contemporânea.
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