29 de março de 2017

Metafísica do amor

Podíamos [sem conseguir]
tentar saber um pouco mais
do amor
e de outras tantas coisas
iguais
como se isso
nos fizesse amar mais
ou mais depressa

Nos fizesse saber mais
da vida
e de tantas outras coisas
desiguais
brilhando difusamente
na face de uma vaga
mar adentro

Amor, amor
Podíamos tentar aceitar
simplesmente
que ao entardecer sucede a noite
e depois a alvorada
num ciclo
igual ou desigual
onde amanhã
é apenas a véspera de outro dia
especial
como tantos outros
[no entanto sem aceitar]

E que importa isso?
se já ninguém morre de amor
ou desamor
ou de falta de (hu) (a) mor
por muito que sacudido, desgraçado, beliscado
como os versos de uma canção
entoada desafinada
com um olhar
apagado...

Amar, amor
quem cantará as tuas glórias
e aspirará o ar dos teus suspiros
o prazer leve
e grave
enquanto dura
até que dura
Amor, amar

A chave da vida
trancada no segredo da memória

2 comentários:

Anónimo disse...

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

Maria Teresa Horta

Isabel disse...

Morrer de amor? Não.
Amar, amor
Cantar as suas glórias é viver de amor.
De amor incondicional.

Florentino Ariza tinha pensado levar-lhe as setenta folhas que nessa altura podia recitar de memória de tanto as ter lido, mas, por fim, decidira-se por um pequeno bilhete sóbrio e explícito, onde só prometia o essencial: a sua fidelidade a toda a prova e o seu amor para sempre.
(Gabriel García Márquez, 'O Amor nos Tempos de Cólera')