Quase sempre vale a pena determo-nos nas suas crónicas, pela visibilidade que dá a temas pouco atendidos em regra, por parecerem insignificantes aos olhos do comum cidadão, mas imensamente importantes. Pela lucidez, pela ponderação, pela forma esclarecida e acutilante com que olha os temas sobre que discorre. Sem rodeios, normalmente com grande conteúdo ético, o que enriquece os temas focados nos seus artigos. Sem a cegueira da verdade absoluta ou sem atender apenas ao positivismo da lei, que tantas vezes não apresenta solução para os problemas (a lei é dos homens, mas nem sempre tem uma dimensão humana), Francisco Teixeira da Mota aborda, no Público de hoje, o tema Miguel Relvas e explica porque motivo foi contra a opinião de que devia ser apresentada queixa-crime contra o ministro pelas alegadas pressões deste sobre o jornal. Porque remeter o assunto aos tribunais levaria ao seu apagamento, uma vez que os seus intervenientes se veriam obrigados ao silêncio imposto por um segredo de justiça que irremediavelmente redundaria num arquivamento silencioso dentro de um ou dois anos. E deixa no ar uma inquietante questão que devia ser colocada ao próprio ministro: esconde o ministro algo, ou é assim mesmo a sua natureza?
Em qualquer dos casos, a resposta à questão é pouco tranquilizadora e um governante que não entendeu isto (porque não há esclarecimentos possíveis a dar que possam emendar a mão do ministro) deixou verdadeiramente de o ser. Continuará a ser ministro, mas desprovido do sentido ético indispensável para manter aquela qualidade. E isto, nunca é demais repeti-lo, é algo que afeta de igual forma a credibilidade de quem com ele se senta à mesa. Há demasiado tempo que suportamos políticos truculentos, que tratam os corredores dos gabinetes ministeriais como uma extensão do seu quintal e a res publica como um privilégio ou um interesse pessoal relativamente ao qual não têm de dar contas nem proceder com transparência, mantendo refens dessa pobreza de espírito milhões de portugueses. É este um dos principais motivos pelos quais Portugal definha como país e com ele as esperanças de gerações marcadas por oportunidades perdidas, porque a "oportunidades roubadas" soaria mal, e porque nos marca com a vergonha, pela resignação, pelo consentimento ditado pela ausência de reação.
Um Primeiro-Ministro sério e com autoridade transformaria o erro de Relvas num trunfo político e capitalizaria a imagem de uma rotura com o passado e uma esperança para o futuro. Pelo contrário, manter Relvas, ainda por cima na mesma pasta política, representa, mais do que uma oportunidade perdida, entregar o ouro ao bandido e assobiar para o lado como se nada se tivesse passado. Sabemos que Passos nada fará de diferente. É um produto de Relvas e sem este não existiria. Sabe-o bem e por isso a criatura não se virará contra o criador nem nunca despirá a vassalagem cultivada desde a "jotinha". E já nem falamos das perigosas ligações de Relvas a Silva Carvalho, afinal o verdadeiro cerne de toda esta questão...
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