6 de outubro de 2009

"Tout est lié. Tout est vivant. Tout est interdependant". Com esta citação começa "Le viol de l'imaginaire", 2002, livro escrito por Aminata Traoré, antiga Ministra da Cultura do Mali, à margem do Forum Social de Porto Alegre, realizado em 2001, aquele acerca do qual Boaventura de Sousa Santos afirmou ser o princípio do futuro.


C’est tel un tambour à l’aube des temps nouveaux que l’appel de Porto Alegre m’est parvenu. Mon cour de femme africaine, qui sait pourquoi il pleure, s’est alors mis à chanter l’esperance en exprimant mon rêve d’alternative à haute voix. Nous étions venus des milliers dans la capitale du Rio Grande do Sul (Bresil), munis de nos histoires de vie individuelles et collectives que nous voulions désormais différentes. Nous nous côtoyons - Rouges, Noirs, Blancs, Jaunes - en peuples arc-en-ciel - et solidaires dans cette quête commune d’un monde meilleur, conscients, fiers et respectueux de nos différences qui font le sel de la terre. Je me sentais de mon peuple, de mon continent et de ce monde de "quêteurs" de liens et de sens à la vie. Et je me sentais bien.
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No livro, Amina denuncia a voracidade do liberalismo e do racismo dos tempos coloniais e ao mesmo tempo o neo-liberalismo e o neo-racismo pós-coloniais, ideias que acentua numa obra escrita en 2004, "Lettres d'une Africaine à la France". Os seus discursos indiciam um combate pela dignidade, pela igualdade e pelo transnacionalismo africano cuja unidade e dignidade procura defender contra a ideia da piedade por África, afinal e em última análise o factor primordial em que assenta o mais enraizado racismo europeu, fonte do falhanço do continente, que é apenas igualado pelas políticas desastrosas do FMI, do Banco Mundial e da corrupção de alguns governantes africanos. Donde, para Amina, o falhanço actual de África assenta na ruína de três ideias, a saber: a económica, a política e a falha civilizacional, cuja correcção constitui a chave da resolução do problema e do princípio do futuro. À data, Amina preparava o Forum Social que decorreu em Bamako, Mali, em 2006.
Concorde-se ou não, as ideias de Amina merecem ser debatidas, repensadas e articuladas num contexto de relacionamento entre continentes, mas sobretudo entre gentes que são transcontinentais, sobretudo porque encontram reflexo numa forma de pensar que, no que nos interessa, pode ser africana, sul-americana ou asiática. Mas sobretudo, porque constitui uma maioria entre as minorias, o sentir africano não se cinge hoje aos africanos de e em África, mas aos muitos milhões que povoam a Europa do presente e que se sentem traídos no passado, alimentando um profundo ódio que abraça e alcança o futuro, hipotecando-o enquanto semeia as bases de uma discórdia que a breve trecho se não resolve. A falta de informação gera a incompreensão, a crise de identidades e o conflito, que apenas acentua a ruptura e a violência. No limite, o maior flagelo, a flor do racismo, desabrocha nestes confrontos ideológicos onde a intolerância se revela total e onde a herança cultural, a religião e raça procuram forjar heranças que mais não são que traços defensivos que assentam em identidades que, como dizia Amin Maalouf, se revelam, afinal, assassinas.

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