sonhei: de novo
soprava o vento
ondulavam as campânulas
sob uma cúpula azul
de onde me chegava
o eco galhofante
das juras do amor
eterno
não oiço: sequer
a tua fina voz
translúcida
um espectro
varando a luz sólida
do fim de tarde
o grito das gaivotas
clamando o teu nome
levanto-me: hoje
velho
sonhando com a poesia
dos versos simples
onde já não cabe
a alma inquieta
por tudo o que ruía
em meu redor
hoje: comove-me
o futuro
a frescura da água
um verso de Rilke
a memória
de um mamilo teu
adormecido
entre os meus dedos
Onde estou?
Onde estava?
não desperto de nenhum sonho
somente acordo
cicatrizo: a luz
o amor acaba
às colheradas
como um frasco de mokambo.