6 de novembro de 2017

uma pequena comoção

sonhei: de novo
soprava o vento
ondulavam as campânulas
sob uma cúpula azul
de onde me chegava
o eco galhofante
das juras do amor
eterno

não oiço: sequer
a tua fina voz
translúcida 
um espectro
varando a luz sólida 
do fim de tarde
o grito das gaivotas
clamando o teu nome

levanto-me: hoje 
velho
sonhando com a poesia
dos versos simples 
onde já não cabe 
a alma inquieta
por tudo o que ruía
em meu redor

hoje: comove-me
o futuro
a frescura da água
um verso de Rilke
a memória
de um mamilo teu
adormecido
entre os meus dedos

Onde estou?
Onde estava?
não desperto de nenhum sonho
somente acordo
cicatrizo: a luz
o amor acaba
às colheradas
como um frasco de mokambo.