O Tiago Mesquita, do 100 reféns, publica esta semana um dos mais belos poemas de amor que me lembro de ter lido. Valem bem a pena os quinze segundos que se levam a lê-lo.
Quinze minutos antes de ti
Não te quero perder, meu amor
Não quero sentir a falta dos teus cabelos brancos
Nem o cheiro doce da tua velhice
Não quero ficar sozinho no nosso sofá
Sem a alegria da tua metade
Não quero ter saudades tuas
Mais do que as que que sinto
Durante os minutos
Que passo na cozinha a fazer o chá da tarde
Ou quando acordo estremunhado a meio da noite
E inerte, fico a admirar-te
Ronronas como uma gata feliz
Passo ao de leve a minha mão calejada nas tuas rugas
Os teus olhos tremelicam como duas borboletas
E juntas percorrem o meu estômago apaixonado
Troco minutos do teu sorriso por anos de vida
Sem ti seriam anos toscos
No meio de sombras que não desejo
Não me interessa viver sem calçar os teus chinelos por engano
Sem ver as nossas bengalas cruzadas aos pés da cama
Não poder tocar-te, esvazia-me
Não te beijar, seca-me
Por isso peço-te
Se partires, meu amor, leva-me contigo
E se não puderes fazê-lo
Sussurra-me de leve no ouvido,
Como tantas vezes fazes, e arrepias-me a alma
Ao dizeres que me vais amar sempre
E juro-te que só para continuarmos juntos
Parto quinze minutos antes de ti
Publicado na Antologia de Poesia Contemporânea Vol. VI - Entre o sono e o sonho - Tomo II - Chiado Editora - 2013
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