23 de junho de 2011

Dúvidas existenciais

A minha filha mais nova, em estado de sonolência à chegada do Festival Med, coloca-me uma questão muito pertinente, que julgo que não estará respondida pelos historiadores: quando os reis, as rainhas e as princesas iam dormir, onde é que punham as coroas?

Confesso que não sei a resposta, e disse-lhe que ia procurar saber. Se algum dos meus amigos me puder ajudar...

6 de junho de 2011

Ontem, o deserto


Ao olhar, um dia depois do escrutínio, para os resultados eleitorais, ocorrem-me os versos crepusculares de Neruda, não os do "Farewell", mas os do velho cego, que na língua materna assim chorava:

Viejo ciego, llorabas cuando tu vida era
Buena, cuando tenías en tus ojos el sol:
Pero si ya el silencio llegó, qué es lo que esperas,
Qué es lo que esperas, ciego, qué esperas del dolor?

[...]

Y si por la amargura más bruta del destino,
Animal viejo e ciego, no sabes el camino,
Yo que tengo dos ojos te lo puedo enseñar.

Não cabe aqui saber se o cego foi Sócrates, ou Portugal e os portugueses. Não cabe procurar responsabilidades, nem apurar culpas onde nem o PS nem toda a esquerda o conseguiram ontem fazer, em cada um dos discursos. E assim, ontem ficou por perceber o que falhou na estratégia, no percurso e nos desígnios políticos dos seis anos de PS em Portugal e de maioria de esquerda. Ficou por perceber o que podia (e devia) ter sido diferente para evitar a entrada do FMI, do colapso do Estado Social, da alternativa ao neoliberalismo tão temido, quando era apregoado que fora este o causador e a origem de todos os males. Ficou por perceber o que andou a esquerda portuguesa a fazer, quando o mundo ocidental foi sucumbindo aos ataques predatórios que a esquerda esclarecida tão bem soube identificar e satanizar. A troika não aterrou em Portugal de surpresa nem sem aviso, antes pelo contrário, foram feitos avisos e o caminho que a isso conduziu foi sendo negligentemente preparado pelo governo. A direita, sem verdadeiramente contar com isso, limitou-se a dar a estocada final no vitelo moribundo.

Isso foi evidente ontem, porque mesmo no meio do discurso eloquente mas óbvio (de Sócrates) e constrangedores de falta de explicações (de Louçã e Jerónimo), percebeu-se o deserto. A bem do pluralismo, espera-se que, erros semelhantes, jamais, venham de onde vierem. À atenção do senhor que segue que saiba identificar o essencial, evitando os abortos governativos, e deixando em paz, por exemplo, a interrupção voluntária da gravidez para que não se tenha de interromper a nova legislatura. Haja, pois, lucidez e decência.

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PS: Faltou dizer que não se percebe porque motivo Francisco Louçã não se demitiu na noite de Domingo. Por ter deixado o seu eleitorado à deriva, órfão de ideologia e desencaixado da realidade económica do país (a colagem ao PCP e a falta à reunião com a troika só conseguiu passar a mensagem que era um partido que não queria governar e por isso faria sentido recusar-lhe o voto) . Era esta a hombridade mínima que se esperaria do segundo grande derrotado da noite. Se o fizer amanhã, ou esperar pelo próximo congresso, ou convenção, como se diz no Bloco, a sua demissão pecará por tardia.
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"A Península"

No You Tube têm-se multiplicado os visionamentos do vídeo abaixo. Aparentemente, trata-se de uma jornalista do canal Al Jazeera ("A Península" em árabe), que não se coibiu de manifestar a sua posição de forma assaz corajosa, em directo. O canal sediado em Doha tem representado, por estes dias, a par do "Facebook", um eco das vozes de libertação que se vêm multiplicando no Médio Oriente desde a "Revolução de Jasmim", que resultou na deposição de Ben Ali.

Desde que foi fundado, em 1995, a Al Jazeera tem crescido exponencialmente, suscitando ódios nos países muçulmanos e também no ocidente (conta-se que em 2005 Bush e Blair terão conspirado para bombardear o "bunker" onde está situada a sua sede, no Qatar, depois de terem sido exibidas imagens de soldados americanos e britânicos mortos, feridos e feitos prisioneiros no Afeganistão e no Iraque).


Não cabem agora aqui os versos de Emily Dickinson, na sua Carta ao Mundo e Outros Poemas, mas vale a pena visitá-los ainda que brevemente, como uma alegoria que de certa forma as palavras da pivô também são:

A Batalha travada entre a Alma
E nenhum Homem - é
De entre todas as Batalhas que permanecem
De longe a Maior
[...]
Nem a História - a regista-
Como Legiões de uma Noite
Que o Amanhecer dispensa - estas resistem -
Imperam - e exterminam.

São ventos de mudança, estes que se anunciam. Provavelmente difíceis, a Oriente como a Ocidente. E é ao escutar as palavras do vídeo que espanta a comparação com os acampados do Rossio, ou da Puerta del Sol. Não há ali nada, que possa ser contraposto às multidões do Cairo, de Tunis, de Tripoli, de Islamabad ou de Manama, rigorosamente nada. É ao ouvirmos a pivô da Al Jazeera e ao olharmos para o número da abstenção nas eleições de ontem, que percebemos que na nossa reconfortante península, o conceito de democracia passou ao lado de quem optou por acampar, no Rossio, na praia, onde quer que fosse, em vez de ir votar. Não tem nada de mais, mas só por causa disso, três em cada dez portugueses foram suficientes para constituir a maioria que a partir de hoje governará os destinos de Portugal.

5 de junho de 2011

Gorilla Pad

Os Gorillaz, uma banda virtual, em tournée pelos Estados Unidos, em 2010, compuseram um álbum inteiro. Com uma particularidade, a de ter sido inteiramente produzido através de um iPad e utilizando aplicações que, no seu conjunto, não ultrapassam os cinquenta euros.

Poder-se-ia pensar que é uma nova forma de fazer música, mas não é nada que não exista já desde os anos 80 (lembram-se dos sintetizadores?). O que acontece agora é que tudo se tornou mais barato e também mais fácil. Claro que há ainda a distribuição e é a este nível que a grande revolução se operou. O álbum dos Gorillaz - "The Fall" - está disponível para download gratuito na página oficial da banda.