29 de março de 2010

Caminhos cruzados

Quando a Primavera de 2008 assentou arraiais na Europa, o jornal Público evidenciou a notícia com a foto de um tagarela-europeu a comer mirtilos num jardim em Minsk. Um facto tão importante como a chegada da Primavera, ou uma ave a degustar mirtilos não nos podia passar despercebido e por isso foi aqui devidamente assinalado. O que nos surpreende é que, precisamente dois anos volvidos desde aquele instante, a pequena ave voltou a ser motivo de destaque e teve direito a um poema apócrifo que nos sensibilizou e que por esse motivo transcrevemos:


Jizz - aves

Caio em mim
o comum da crise
a solidão o vento leve
o poço e o céu.

De relance reconheço-te
a tua mensagem cheia de sol
longe da terra ave da peste.

levo ainda cópias do teu voo
foge do olhar frio
o céu é teu.

primavera primavera
insurge-te.
.
Uma vez que regressámos a Minsk, uma ex-cidade do antigo império russo, occore-me, por associação de ideias, embora isso tenha pouco, ou mesmo nenhum interesse, que creio que muito poucas composições transcrevem tão bem o triunfo da chegada da Primavera como a abertura da quarta sinfonia de Tchaikovsky (mas fica ressalvado que não discordarei de quem defenda que o quarto andamento da nona sinfonia de Dvorak - dita do Novo Mundo - seja a obra certa para assinalar o evento).


Piotr Tchaikovsky, IV Sinfonia, I andamento

22 de março de 2010

A campanha Sussex Safer Roads vem conhecendo um sucesso enorme, em grande parte devido à mediatização do vídeo acima, que já foi visualizado por James Cameron, Bill Gates ou a própria rainha de Inlglaterra. Visite o site da campanha para saber mais.

4 de março de 2010

The Comedians, de Peter Glenville, 1967

(todo o filme disponível no You Tube)

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent


Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Les comédiens
Ont installé leur tréteau
Ils ont dressé leur estrade
Et tendu des calicots
Les comédiens
Ont parcouru les faubourgs
Ils ont donné la parade
A grands renforts de tambours

Devant l'église,
Une roulotte peinte en vert
Avec les chaises
D'un theâtre à ciel ouvert
Et derrière eux
Comme un cortège en folie
Ils drainent tout le pays
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Si vous voulez
Voir confondu le coquin
Dans une histoire un peu triste
Où tout s'arrange à la fin
Si vous aimez
Voir comblés les amoureux
Vous lamenter sur Baptiste
Ou rire avec les heureux

Poussez la toile
Et entrez donc vous installer
Sous les étoiles
Le rideau va se lever
Quand les trois coups
Retentiront dans la nuit
Ils vont renaître à la vie
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Les comédiens
Ont démonté leur tréteau
Ils ont ??? leur estrade
Et plié leurs calicots
Ils laisseront
Au fond du coeur de chacun
Un peu de la sérénade
Et du bonheur d'Harlequin

Demain matin
Quand le soleil va se lever
Ils seront loin
Et nous croirons avoir rêvé
Mais pour l'instant
Ils traversent dans la nuit
D'autres villages endormis
Les comédiens

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens

Prefácio de um: conto climático ou em todo o caso nada parecido com isso, ou apenas o primeiro poema com uma nota de rodapé do autor

Era, evidentemente, de um reflexo aproximativo que se tratava, o que avistei quando baixei os olhos e me revi na superfície da água que à minha frente deslizava velozmente pelo leito do pequeno riacho. Não porque o tivesse visto assim, porque vi, mas sobretudo porque não sei se, tendo visto o tal reflexo aproximativo, este se tratava de um produto da minha imaginação, ou, pelo contrário, da água turva que o riacho levava, fruto da chuva intensa que caiu nos dias anteriores. A verdade é que, sendo embora a época das chuvas, o Instituto Meteorológico, pleno de lógica meteorológica, referiu-se àquele ano como um ano anormalmente pluvioso, e mais tarde, como um ano de chuvas anormalmente intensas, que os mais antigo sentiram como um mau presságio e que os mais novos sentiram como um corolário das alterações climáticas para que os cientistas e um ex-candidato à presidência de um dado país vinham alertando há muito, sem que os demais políticos de outros países estivessem na disposição de se empenhar em inverter o curso dos acontecimentos e em todo o caso não corressem o risco de ser penalizados nos sufrágios a que se submetiam, junto do comum cidadão, o qual estava, por um lado, mais preocupado em ser comum que em ser propriamente cidadão e por outro, nessa medida, nada preocupado em prescindir de ser inconscientemente comum para passar a ser um consciencioso cidadão. E assim, o reflexo aproximativo que vislumbrei era um reflexo do cidadão que eu próprio era, sem que esta análise tivesse em conta, nem por sombras, muito pelo contrário, a pessoa que eu era ou em que entretanto me tinha tornado.
.
hoje apetecia-me esgueirar(*)
para dentro de ti
antes do despertar da insónia
de 5 de março
.
de madrugada, acto 1 ou antes um simples acto contínuo
.
sussurro sossegadamente o teu nome
assim: xis
quase em silêncio
silêncio salgado na maré vasa
hesito
se escrevo
ou me travo de razões
?
ou antes adormeço
.
em todo o caso o mar ao longe
desperta-me
enquanto o sal se cristaliza na orla
das primeiras águas
depositadas na praia
evaporadas de emoções
como os teus lábios ressequidos
.
porque morremos assim?
.
(*) sem que tenha evidentemente a certeza que esgueirar seja a palavra certa