Mea culpa, tenho andado a escrever pouco. Deve ser da qualidade da lenha que ando a utilizar, incita-me mais à contemplação que ao trabalho. Mas há acasos na vida. Eis, pois, um desses acasos: a propósito do furto da placa da entrada de Auschwitz (donde o título deste post), há dias, descobri que o compositor francês Olivier Messiaen foi preso pelas tropas alemãs mais ou menos ao tempo do início da invasão polaca. Não esteve inicialmente em Auschwitz, mas numa prisão vizinha, igualmente no Sul da Polónia.
O. Messiaen, Quatuor pour la fin du temps
Nessa condiçã,o compôs Quatuor pour la fin du temps. Entre os seus companheiros de cela figuravan um clarinetista, um violinista e um violoncelista. Messiaen padecia de subnutrição e tinha frequentemente visões acerca do princípio da eternidade. A peça foi pela primeira vez exibida em 1941 perante cinco mil prisioneiros do campo. Acerca do segundo movimento, Messiaen escreveu: "The first and third parts (very short) evoke the power of this mighty angel, a rainbow upon his head and clothed with a cloud, who sets one foot on the sea and one foot on the earth. In the middle section are the impalpable harmonies of heaven. In the piano, sweet cascades of blue-orange chords, enclosing in their distant chimes the almost plainchant song of the violin and violoncello".
É uma peça incontornável na música contemporânea, sobretudo na associação de instrumentos que coloca em cena (o que faz um piano nesta peça? O que fazia um piano em Auschwitz?). Mas é muito mais que isso. Marca o fim da linha para Messiaen, como para tanta gente, entre a qual, o compositor checo Pavel Haas, cuja obra acabo de começar a descobrir.