23 de novembro de 2023

Let me...


Let me show you how to fly
hold you gently by the hand
kiss your tears goodbye.

Let me show you the light
lead you out of needless rain,
see you smile again.

Let me sing you all the songs I wrote
til you sleep in my arms
and awake with the sunlight in your face.

Let me bring you up the mountain
see you touch the skies
smile while I look into your eyes.

Let me help you sail
like a butterfly 
gifted with pretty wings.

Let me do all these to let you see
You're the precious gem
the earth and the sky 

So fly with me,
and then stretch your wings
I'll be here.

[From a father to a daughter]

26 de janeiro de 2023

A tale to tell

Time and age, a tale to tell,
Of memories locked in a spell,
Of moments that slip through our grasp,
Like sand through an hourglass.

The past, a labyrinth of old,
Where echoes of youth still hold,
And the future, a mystery yet to unfold,
As we journey down the roads of gold.

Age creeps in, with each passing year,
Etching wrinkles, and bringing fear,
But time, it goes on, without a care,
As we age, and our hair turns grey and spare.

23 de janeiro de 2023

Mar de alma

O mar da minha alma é um labirinto de ondas que se entrelaçam e se desfazem, de crepúsculos que se desvanecem e renascem.

A embarcação da minha mente balança sobre águas inquietas

à procura de margem que nunca alcança.

A verdade e a ilusão confundem-se no jogo de luzes e sombras que o luar cria sobre o mar.

E eu, o navegador solitário, pergunto-me se o que vejo é real

ou uma ilusão do mar da minha alma

16 de janeiro de 2023

Sílabas cabais

Chuva minuciosa

Cai. caiu

Presente. passado

Flor viçosa

Cor de rosa

Encarnado debotado

Violeta fogosa

Cores ao acaso

13 de janeiro de 2023

Livros

 Os meus livros são os meus olhos

o meu rosto no espelho

as minhas têmporas a latejar

são Eu

As palavras que não escrevi

suspensas no tempo

embrulhadas em folhas 

Vozes caladas

                                                                             Antes assim 

Ecos

mudos para sempre



19 de dezembro de 2021

Revisitar Cesário e o Tejo

 


Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer

27 de agosto de 2021

Das coisas que se propagam

Tudo se espalha
ao comprido
os silêncios
a vida
as palavras ululantes clamado por silêncio
um sorriso cúmplice
o desviar de um olhar
as cores de uma paisagem
a luz
as sombras do entardecer
a escuridão
a ausência
a saudade
o tempo
o tumulto branco dos dias
o cabelo derramado sobre uma almofada
o sorriso
o cheiro matinal do café
o atardecer das sextas-feiras

9 de junho de 2020

Poemar o mar

Cantava longas
trovas
perigosas
sobre o mar
O amar
ardente
Contava cantava
longamente ardentemente

Mar
ardente. Longo
perigoso
adentro
pleno. de fulgor
ardente

O amor
escrevia
ardente
negra. a tinta
escarlate. o amor
adentro

o fulgor
o amor
adentro
forte
fortemente
longo
longamente

o tempo
demoradamente
imensamente
a terra
o mar
adentro

eterno
Eternamente
A eternidade


28 de janeiro de 2020

Metaforismos

Eramos
Casas devolutas
como corações
Habitadas por fantasmas
como pensamentos
Varandas enferrujadas
como sentimentos
Chaminés tombadas
como o ânimo

Que nem as andorinhas querem
para edificar os seus ninhos

[dito de outra forma muito melhor assim]

És como as estrelas
que formam as constelações
desenham sinais e dão nomes ao céu
palavras esboçadas no firmamento
dos seres vivos luminosos
acendidos pela imaginação

És metaforicamente
o firmamento das estrelas
E hiperbolicamente
toda a saudade do Universo


16 de janeiro de 2020

Só...

quero-Te
a Ti
só a Ti
só te quero a Ti
nas manhãs frias
nas madrugadas de silêncio
nos dias de chuva
nos crepúsculos ruidosos
a Ti
aos Teus lábios orvalhados
ao olhar do Teu rosto
que reflete a Tua alma
só te quero a Ti

as vezes de uma vida

10 de dezembro de 2019

Song of Myself (26)

Now I will do nothing but listen,
To accrue what I hear into this song, to let sounds contribute toward it.
I hear bravuras of birds, bustle of growing wheat, gossip of flames, clack of sticks cooking my meals,
I hear the sound I love, the sound of the human voice,
I hear all sounds running together, combined, fused or following,
Sounds of the city and sounds out of the city, sounds of the day and night,
Talkative young ones to those that like them, the loud laugh of work-people at their meals,
The angry base of disjointed friendship, the faint tones of the sick,
The judge with hands tight to the desk, his pallid lips pronouncing a death-sentence,
The heave'e'yo of stevedores unlading ships by the wharves, the refrain of the anchor-lifters,
The ring of alarm-bells, the cry of fire, the whirr of swift-streak-
ing engines and hose-carts with premonitory tinkles and color'd lights,
The steam-whistle, the solid roll of the train of approaching cars,
The slow march play'd at the head of the association marching two and two,
(They go to guard some corpse, the flag-tops are draped with black muslin.)
I hear the violoncello, ('tis the young man's heart's complaint,)
I hear the key'd cornet, it glides quickly in through my ears,
It shakes mad-sweet pangs through my belly and breast.
I hear the chorus, it is a grand opera,
Ah this indeed is music—this suits me.
A tenor large and fresh as the creation fills me,
The orbic flex of his mouth is pouring and filling me full.
I hear the train'd soprano (what work with hers is this?)
The orchestra whirls me wider than Uranus flies,
It wrenches such ardors from me I did not know I possess'd them,
It sails me, I dab with bare feet, they are lick'd by the indolent waves,
I am cut by bitter and angry hail, I lose my breath,
Steep'd amid honey'd morphine, my windpipe throttled in fakes of death,
At length let up again to feel the puzzle of puzzles,
And that we call Being.

Walt Whitman 

13 de agosto de 2019

Van Gogh and Britain

Encerrou há dias "The Ey Exhibition: Van Gogh and Britain" um exposição que esteve patente na Tate Britain, em Londres. A mostra revelava cinquenta trabalhos do pintor - que viveu em Londres - com a intenção de mostrar a influência dos artistas britânicos no trabalho de Van Gogh e vice-versa. 
A exposição revelava, ao longo de nove salas, em particular, as influências de Dickens e George Elliot, a partir da literatura, mas também de Constable e Millais, na pintura. Por outro lado, patenteava a influência do holandês nos trabalhos de Bacon, Bomberg, Harold Gilman ou Spencer Gore, entre outros, na escola dos modernistas britânicos. Embora apenas dividida em duas secções, a exposição esteve perfeitamente organizada, porque escalada em três momentos: as influências inspiradoras, o resultado no trabalho do artista e a influência posterior do trabalho de Van Gogh nos britânicos. Na mostra figuravam trabalhos maiores do pintor, como os Girassóis da National Gallery ou a Noite Estrelada sobre o Reno do Museu de Orsay.




Entretanto, não deixo de [como poderia?] estabelecer a este propósito uma ponte com o poema de William Blake 


London
I wander thro' each charter'd street
Near where the charter'd Thames does flow
And mark in every face I meet
Marks of weakness, marks of woe.

Humildemente, altero os versos de Blake
My thoughts wander
near by the Thames
where my heart flows
helplessly
searching in every face
for the warmth of your vows.


Mais adiante, descendo o Tamisa, porventura ainda inspirado por uma das gravuras de Gustave Doré, detenho-me um pouco à beira-rio, não longe do local retratado por este último, onde traduzo livremente aqueles versos, num impulso:


Londres
A minha alma
flutua junto ao Tamisa
onde em surdina
o meu coração bate
enquanto evoca o teu nome
procurando o reflexo do teu rosto
no de quem passa
ou nas águas adormecidas
junto à margem


Parafraseio por fim Harold Gilman, que mantinha um retrato do pintor no seu atelier e, antes de começar a pintar, saudava-o com o pincel e uma vénia, enquanto soltava um proverbial "à toi Van Gogh!".

Destinos

Estes passos
[os teus]
encontro-os
[nos meus]
Outros passos
Outros rastos
passados
não se ignoram
São destinos comuns
Não se curvam
Não se vêem
não se ignoram
Caminham
Assim
de encontro
a um destino
comum
ao encontro
de ti

1 de março de 2019

O teu nome

O teu nome no mar profundo
todas as noites intacto
o rosto o corpo
refletidos no azul da água
acima das ondas sem tempo

Em silêncio
ouço o rumor do vento
e reaprendo os dias
enquanto derramo as horas
pelas frestas iluminadas das janelas

As mãos em concha
amparam palavras
relâmpagos sem fim da alma
que se desfaz em gotas de água
e rega os lírios

O teu nome no mar profundo
Aqui... o escrevo