15 de outubro de 2008
12 de outubro de 2008
Marrocos em Silves

9 de outubro de 2008
Guernica 3D
Últimos dias para Olhar Picasso no Pavilhão do Arade, em Portimão até dia 19/10, diariamente até às 18 horas.
8 de outubro de 2008
meandros, esteios e ravinas calcinados
que recuso percorrer...
De Manhã Em Berlim
vi o coração desdentado,
a louca sepultura,
a cinza,
as ruínas mais pesadas,
com florões e frisos
gravemente feridos,
balcões arrancados a uma negra mandíbula,
muros que já perderam, que não encontram
as suas jaelas, as suas portas,
os seus homens, as suas mulheres,
e uma montanha dentro de escombros empilhados,
sofrimento e soberba confundidos
na farinha final, no moinho
da morte.
Oh cidadela, oh sangue
inutilmente desparecido,
esta é talvez, esta é
a tua primeira vitória,
ainda entre escombros negros
a paz que conheceste,
limpando as cinzas e elevando
a tua cidadela para todos os homens,
tirando as tuas ruínas
não os mortos
mas o homem comum,
o novo homem,
o que edificará as estruturas,
do amor, da paz e da vida.
Pablo Neruda, excerto de O Sangue Dividido
7 de outubro de 2008

6 de outubro de 2008
Maria João ist ein Berliner
W.A. Mozart Kv.466 concerto n. 20 em Ré menor, II e III mov.
M. João Pires, Berliner Philharmoniker e Pierre Boulez
Mozart compôs este trabalho em 1785 e a primeira execução pública do mesmo foi em Viena nesse mesmo ano, tendo a orquestra sido dirigida pelo próprio compositor. Leopold Mozart, o pai, escreveu à filha, Maria Anna, o seguinte, após ouvir a peça: "Ouvi um excelente concerto de Wolfgang, no qual o copista ainda trabalhava quando chegámos e o teu irmão nem sequer teve tempo de ensaiar o rondó porque teve de supervisionar a cópia das partituras."
O concerto divide-se em três movimentos, sendo o primeiro Allegro, a que se sucedem Romance e Allegro Assai, habituais em Mozart e nas composições à época. O tema principal é abordado no primeiro movimento, sendo repetido no segundo e também no terceiro, variando embora o tom, que no segundo movimento passa a Si maior e a Sol menor, antes de evocar novamente o tema principal com que termina a peça. No terceiro movimento assume-se definitivamente o rondó a que se refere o pai Mozart, no tom dominante do concerto, que termina com um vibrante solo de piano, repetido pela orquestra num poderoso e surpreendente Ré maior.
A versão reproduzida acima, interpretada por Maria João Pires tem como pano de fundo os Jerónimos e corresponde a uma versão do concerto com arranjo do maestro, escritor e ensaísta(1) Pierre Boulez, sendo a orquestra conduzida pelo próprio (note-se a ausência de batuta, que é uma [sua] imagem de marca).
(1) v. "Schoenberg est mort"
4 de outubro de 2008
Mónica Pais
3 de outubro de 2008
The sounds of colours
(Fundação Joe Berardo)
and the colours of sounds
Disco 1. Play. Som. Imperfeições. António Pinho Vargas. Rewind. Memórias. Brinquedos, Tom Waits, Dança dos Pássaros, Alentejo, La Corazón (lento e acelerado), "não sou nenhum compositor, sou apenas um músico" dizia Pinho Vargas há não muito tempo numa entrevista breve remontando a 2002. Pausa. Antes Stop. E eject. Insert. Agora o Disco 2. Close. Play. Imperfeições parte dois. E? "bem, afinal, talvez, quem sabe?..." diz o músico já na recente condição de auto-assumido compositor, em 2008. Finalmente. E de facto. Percebe-se agora o alcance da afirmação feita em 2002. António Pinho Vargas tinha ideias claras sobre onde queria chegar e amadureceu-as. Esperou. Soube esperar. Soube fazer-nos esperar. Bem, diga-se, como convém, e fez questão de comprová-lo neste novo trabalho, onde as primeiras composições ombreiam com as mais recentes tornando evidente o percurso e a evolução do "simples" músico para o maduro compositor. E se não havia, dizemos nós, necessidade, é evidente que estavamos redondamente enganados. A erudição na música de Pinho Vargas intensificou-se (a complexidade do Movimento Parado das Árvores é um exemplo), elevou-se e atingiu um patamar apenas ao alcance de alguns - poucos - eleitos. Nada Obscuro nem Nebuloso, reforce-se, em Pósludio, nesta simples e primária apreciação. E agora? Será o céu o limite? Qu' importe? Por ora, música, Maestro! com todas as Imperfeições que desejar. E perdoe-se-nos o minimalismo da apreciação.
29 de setembro de 2008
Ryuuichi Sakamoto

DegasL' art c' est le vice. On ne l' epouse pas légitimement, on le viole.
Edgar
O projéctil entrou um pouco abaixo da epiglote e saiu por trás, acima da nuca. Restos do cérebro de Diogo Cuadril espalhavam-se pelo chão e na parede por trás da cadeira. Uma imensa poça de sangue alastrava no solo, encharcando o tapete granadino que revestia o mosaico hidráulico. Os olhos do comisario fitavam um lugar distante para além da parede à sua frente e se há quem diga que o último olhar de um morto grava a derradeira imagem que contempla, o olhar de Cuadril podia dizer-se à primeira vista que era o de um homem assustado com algo que provavelmente não existiu para além do instante em que a arma detonara a única cápsula alojada na câmara daquela 9.5. Estranha arma. Não era nenhuma das disponibilizadas pelo corpo policial, nem mesmo para a defesa pessoal dos membros superiores da instituição. E no entanto estava firmemente segura pela mão esquerda de Cuadril, poisada no braço esquerdo da cadeira.
- Investigue-me a proveniência da arma - pediu Javier Falcón - e sobretudo não lhe toquem, por enquanto.
- Suspeita de alguma coisa, inspector jefe? aventurou Cristina Ruiz.
- Não. Por enquanto não, ou suspeito de toda a gente - respondeu Javier Falcón enquanto contemplava o orifício de entrada do projéctil. Este estava limpo, com uma circunferência perfeita e com rara pigmentação de pólvora. A vida corria bem ao comisario pensou, enquanto lhe mediu a olho o perímetro do estômago. Tinha engordado bastante e a proeminência das vísceras era notória, acentuando o seu aspecto viscoso de réptil .
Quando terminou descalçou as finas luvas de borracha, que depositou numa bandeja estendida por um dos auxiliares. O médico legista chegara e aproveitara para lhe trazer o relatório de autópsia dos dois homens encontrados nesse dia no porto. Este confirmava que ambos tinham morrido em consequência do choque, apesar da gravidade dos ferimentos, mas trazia uma novidade de que ninguém se havia apercebido: no estômago e no esófago de cada um dos cadáveres alojavam-se respectivamente trinta moedas de um euro. Instintivamente e sem pensar duas vezes, olhou para o comisario desviando o olhar dos olhos deste, enquanto procurava o que encontrou sem custo nem surpresa: por baixo da camisa desabotoada de Diego Cuadril sentiu a frieza metálica das moedas alojadas no estômago deste. Deixou-se cair numa cadeira, enquanto sentiu um arrepio conhecido a percorrer-lhe as costas. Acabara de se aperceber que Diego Cuadril não era um homem canhoto. O rato do computador estava à direita do teclado.